Ainda eleições e protagonismo negro…

Uma peça publicitária da campanha presidencial do PSDB acaba de divulgar um jingle com muitos jovens brancos, cantando versos de funk, num cenário que mostra a favela ao fundo. É inacreditável ainda circularem iniciativas que silenciam o protagonismo negro na transformação e ação política moderna, como quer dar a entender a propaganda. Descuido racista dos marqueteiros ou dissimulada intenção de atrair a nova classe média das favelas e periferias – explorando o déficit de autoestima produzido pelo racismo, a estratégia precisa ser denunciada. É lamentável e inaceitável. Além de tudo, contraria todo o esforço materializado na lei 10.639 que, no campo educacional, procura afirmar a presença negra na história do Brasil, em qualquer partido político, e combater o racismo através da valorização da cultura e identidades negras.

Para um forte e belíssimo exemplo de como o protagonismo negro pode ser valorizado e divulgado em outros termos, apresentamos hoje o catálogo de uma exposição itinerante, já anunciada há algumas semanas atrás, Para não perder a memória, D. Zica 100 anos do Centro Cultural Cartola – Museu do Samba Carioca. O catálago da exposição dá uma boa ideia do que podemos conhecer sobre a história dos sambistas, homens e mulheres negras que reinventaram a historia cultural da cidade do Rio de Janeiro a partir de seus morros e periferias. Conta com textos de especialistas, Nei Lopes, Felipe Ferreira, Nilcemar Rocha, Luciano Nascimento, Desiree Reis e Martha Abreu, além excelentes atividades pedagógicas sobre o patrimônio cultural do samba. Vale conferir na biblioteca do blog.

Foi também refletindo sobre apagamento/resgate do protagonismo negro que Hebe produziu um texto sobre o atual momento eleitoral. Reproduzimos aqui o primeiro parágrafo e os convidamos a ler o texto na íntegra também na biblioteca do blog.

“Durante o segundo semestre de 2013, em função da minha pesquisa sobre o engenheiro abolicionista André Rebouças, eu lia diariamente exemplares das edições mensais de um periódico publicado em Nova York, por um jornalista brasileiro, do qual André foi ativo colaborador. O Novo Mundo registrava notícias dos Estados Unidos para o Brasil durante a década que se seguiu à guerra de secessão americana. No antigo sul escravista derrotado, o período conhecido como “Reconstrução Radical” (1865-1877) foi pioneiro em reconhecer direitos civis e políticos aos ex-escravos tornados livres com a vitória da União. Muitos se alfabetizaram, participaram politicamente em seus locais de moradia, votando e sendo eleitos, junto aos políticos republicanos radicais oriundos do Norte do país. As conquistas sociais realizadas neste curto espaço de tempo são impressionantes e preenchem as melhores páginas da historiografia social e política sobre o pós-emancipação nos Estados Unidos. No entanto, o movimento fracassou, graças principalmente à eficácia de um discurso de fundo aristocrático, construído a partir da manipulação seletiva de uma série de casos pontuais de corrupção, segundo o qual toda a ação política dos libertos e o idealismo republicano eram uma simples fachada para a ação criminosa de um grupo de aventureiros corruptos que enganavam ex-escravos desinformados. Esta leitura foi depois potencializada pela memória, associou-se ao chamado “racismo científico” do final do século XIX, e progressivamente foi corroendo as conquistas dos libertos, ainda pouco sedimentadas, resultando em leis de segregação racial em todo o Sul a partir dos anos 1890, que durariam até a segunda metade do século XX.  Através das páginas de O Novo Mundo, acompanhei o dia a dia da tragédia que se anunciava e as semelhanças com o que eu ouvia no Brasil do século XXI muitas vezes me preocuparam. A divulgação seletiva e sincronizada com o segundo turno das eleições de depoimentos relacionados ao escândalo de corrupção na Petrobras me fez duvidar de onde e em que século me encontro agora….” (continuar lendo)

Boas leituras.

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