Mais respeito com a biografia dos outros, pessoal

O Estadão publicou hoje, 14/6/2016, um editorial de ódio sobre a inciativa de entregar um Vídeo/Manifesto de historiadores em defesa do estado democrático de direito à Presidenta afastada. O autoritarismo do jornal é quase inacreditável. Ele não se dá ao trabalho de citar qualquer dos intelectuais que participaram da iniciativa. Segundo o jornal, Harvard, Sorbonne, Brown e as melhores universidades brasileiras estão aparelhadas pelo “lulopetismo”. Seria cômico se não fosse trágico. Incomodamos. (por Hebe Mattos e Martha Abreu)

Sobre as opiniões veiculadas pelo jornal, vale ler a rápida e precisa resposta de Keila Grinberg, publicada em sua página do facebook.

Aprendi muito com “a opinião” do Estadão de hoje. Aprendi que meu ofício é “reconstituir o passado”. Essa foi boa. E passado lá é cena de crime, para ser reconstituído?

Nós narramos, contamos, explicamos. Interpretamos os fatos. Discordamos uns dos outros. E, acima de tudo, ensinamos aos nossos alunos que, quando queremos argumentar a favor desta ou daquela interpretação – qualquer interpretação – é preciso, no mínimo, contextualizar o documento e citar a fonte. Do contrario, não passa de mera “opinião”.

Pelo menos nisso, o Estadão foi honesto: o que está escrito no editorial é mera opinião. Sem qualquer fundamento. Afirmar que formulamos um “pensamento único nas universidades” e que pretendemos difundir um “discurso consensual” sobre o que quer que seja é opinião sem qualquer fundamento. Afirmar que pretendíamos aproveitar o sucesso eleitoral petista “para tornar hegemônica a versão segundo a qual o PT e seus satélites transformaram o Brasil no país da justiça social” é opinião sem qualquer fundamento.

O Estadão, como bom jornal que supõe ser, ao invés de desqualificar aqueles a quem critica podia ao menos indicar a fonte. Assim seus leitores podem formar suas próprias ideias, mesmo que sejam diferentes daquelas expressas pelo jornal. É isso o que ensinamos aos nossos alunos.

Então, aí vai: para quem quiser saber quem são os Historiadores pela Democracia, acesse http://historiadorespelademocracia.tumblr.com/. E para quem não leu a opinião do Estadão, aqui vai a fonte: Jornal O Estado de São Paulo, 14 de junho de 2016, http://opiniao.estadao.com.br/…/geral,o-lugar-de-dilma-na-h…, acessado no mesmo dia. Tirem suas próprias conclusões.

Agora, de tudo isso, o que me chateou mesmo foi a referência ao Marc Bloch: mais respeito com a biografia dos outros, pessoal.

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4 Comentários

Arquivado em historiografia

4 Respostas para “Mais respeito com a biografia dos outros, pessoal

  1. Stuart Schwartz

    Gostei mesmo a lição da historia–como fazer a história– feito aqui pelas boas historiadoras. Parabens

  2. Pingback: Quem tem medo da História? - Semrodape.com

  3. Estadão e congêneres frequentemente “esquecem” em sua defesa o papel fundamental que tiveram na subversão da democracia, sustentáculos que foram ñ só do regime, mas da repressão tal qual a Oban. Agradeço a coragem destes renomados intelectuais que não se escondem atrás do cinismo da imparcialidade de fachada do decadente jornalismo brasileiro nem temem sua máquina difamatória que hoje chama de lulopetismo aquilo que outrora chamou de anarcosindicalismo e comunismo.

  4. Pingback: Contradança: réplicas às críticas ao movimento historiadores pela democracia | conversa de historiadoras

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