Cotas, Reparações e Ações Afirmativas _ um diálogo audiovisual

As Cotas na Pós-Graduação renderam discussão nos grupos de professores e historiadores em que habitualmente divulgamos o blog. É um bom começo de conversa. Fizemos um texto antes de tudo celebrativo, mas não deixamos de assinalar os principais fundamentos da proposta. Nosso argumento central é que a diversidade étnico-cultural, incluindo aí questões de gênero e de identidade racial, possui impacto positivo no ambiente acadêmico e na construção de suas agendas de pesquisa – e isso em todas as áreas do conhecimento. Não por acaso, os cursos de antropologia social saíram na frente, corolário quase necessário do esforço que a disciplina empreende já há muitas décadas para superar por completo suas origens coloniais.

Uma boa ocasião para discutirmos diversidade cultural e produção de conhecimento nos campos da história e da antropologia se configura com a aproximação da primeira jornada de discussão do V Festival Internacional do Filme de Pesquisa, com o tema Patrimônio e Memória da Escravidão Negra no Brasil, que acontecerá nos próximos dias 25 (sábado) e 28 (terça-feira) de abril no Museu de Arte do Rio. A jornada foi organizada pelo LABHOI, em conjunto com Francine Saillant, da Université Laval e apoio de Michele Johnson, da York University, do Canadá, celebrando o encerramento do projeto de pesquisa Slavery, Memory and Citizenship, que deu origem à ideia do festival itinerante.

Francine Saillant, diretora do Centro de  Pesquisa Cultura, Artes e Sociedade (CELAT) da Universidade de Laval, acaba de lançar, no Quebec, o livro Le Mouvement Noir au Brésil (2000-2010). Réparations, Droits et Citoyenneté/ O Movimento Negro no Brasil (2000-2010). Reparações, Direitos e Cidadania, sistematizando dez anos de pesquisa em estreito contato com diversos atores do Movimento Negro no Brasil. Suas reflexões sobre o tema estarão em pauta na conferência “Reparação e Reconhecimento”, na terça-feira, 28, às 11:30h. No mesmo dia, a historiadora Michele Johnson, diretora do Harriet Tubman Institute, da Universidade de York, será debatedora do conjunto de DVDs sobre cultura negra e memória da escravidão no Rio de Janeiro, que as historiadoras deste blog reuniram na Caixa Passados Presentes, e encerrará o evento com a conferência “Brasil e Caribe. Diferenças e Aproximações”, abordando a performance como fonte de resistência cultural e de produção de identidades negras, apoiada em rico material audiovisual, com tradução consecutiva.

A programação começa no sábado, dia 25, pela manhã, com a exibição do filme “Memórias do Esquecimento”, do antropólogo italiano Andre Cicalo, autor de importante livro sobre a experiência de introdução do sistema de cotas na UERJ, Urban Encounters. Affirmative Action and Black Indentities in Brazil/ Encontros na Cidade. Ação Afirmativa e Identidades Negras no Brasil (2012), prêmio de melhor livro da Sessão Brasil na LASA 2013. O filme “Memórias do Esquecimento” discute a ausência de memória da escravidão na zona portuária do Rio de Janeiro, hoje completamente revertida com a patrimonialização do Cais do Valongo, tema da pesquisa atual do diretor. A historiadora e antropóloga da UERJ, Myriam Sepulveda dos Santos, coordenadora do Museu Afrodigital Rio de Janeiro, atuará como debatedora na sessão.

Em seguida, será exibido o filme FESMAN 2010, sobre o Festival de Artes Negras em Dakar, no qual o Brasil foi convidado especial, de Christine Douxami e Philippe Degaille. Christine é antropóloga no Centro de Estudos Africanos da EHESS, em Paris, e autora de extensa pesquisa sobre o teatro negro como teatro político no Brasil. Os diretores estarão presentes para discutir o filme com a plateia. Coordenando os debates, a antropóloga italiana, radicada em Paris, Stefania Capone.

Stefania é uma das mais importantes pesquisadoras das religiões de matriz africana no novo mundo, especialmente o candomblé e outras variantes do culto aos orixás. Será debatedora na terça feira, 28, da caixa de DVDs realizados por Francine Saillant em colaboração com Mãe Torodi de Ogum, de título Resistência! Este mês, ela está lançando no Brasil, em conjunto com Leonardo Carneiro, o livro Modupé, meu amigo, primeiro livro infantil discutindo a intolerância religiosa. Além de participar das atividades do festival, no Museu de Arte do Rio, os autores farão lançamento do livro na UFF, na segunda-feira, 27, 14:30, no auditório do segundo andar do bloco O do Campus do Gragoatá.

No sábado, 25, a tarde, as historiadoras do blog terão prazer em discutir com o público presente o filme Passados Presentes. Memórias Negras no Sul Fluminense, sobre a memória do tráfico ilegal de africanos escravizados no Rio de Janeiro. Em seguida, será exibido, pela primeira vez no Festival, o filme Memórias Periféricas, de Francine Saillant com o antropólogo Jacques D’Adesky. O filme traz a público uma das últimas entrevistas de Abdias do Nascimento, conjugada a uma abordagem original do movimento negro na periferia do grande Rio e ao desenvolvimento de uma oficina de fotografia, com crianças da comunidade de terreiro de Mãe Torody, ministrada pelo grande fotógrafo e militante negro Januário Garcia.

Cliquem duas vezes na imagem abaixo para acessarem em melhor resolução o folder virtual com a programação completa do evento.

Esperamos vocês por lá.

FolderVirtual

Cartaz_abril_junho_2015

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