Datas são signos poderosos. Os calendários de feriados e celebrações são um dos mais universais organizadores do tempo nas sociedades contemporâneas e esta foi uma semana em que o sentido simbólico associado às datas falou forte. Manifestações políticas foram organizadas, com antecedência, pelas centrais sindicais e movimentos sociais, para uma sexta feira, 13 de março, exatos 51 anos depois do célebre comício da Central do Brasil, ocorrido no mesmo dia da semana – e último ato público de massas do presidente João Goulart, antes de ser deposto pelo golpe civil/militar de 31 de março/primeiro de abril. Outras manifestações foram programadas, também com antecedência e com estrondoso apoio de mídia, para o dia 15 de março, data em que tomavam posse os presidentes militares do último período ditatorial, após serem formalmente eleitos, de forma indireta, por um colégio eleitoral. Tais evocações do passado são, sem dúvidas, fortes signos a produzir significados políticos no presente e a sinalizar para projetos diferentes de futuro. E mostraram-se essenciais para impregnar de sentidos as manifestações da semana e as motivações políticas dos que delas participaram.
Os usos do passado no presente não aproximam, porém, passado e presente, pelo contrário. Ainda que ecoem semelhanças nas demandas por reformas ou nos pedidos por intervenção militar, o Brasil de hoje é completamente diferente do de 50 anos atrás. A começar pela universalização do direito de voto, bandeira do comício de 13 de março de 1964, inscrita há quase 30 anos na constituição de 1988. Uma conquista que fez a diferença e continurá a fazer, temos certeza.
(veja o video na biblioteca do BLOG)
Pensar a história da cidadania no Brasil é essencial para que não percamos isso de vista. No próximo dia 20 de março, sexta-feira, 14 horas, retornamos aos encontros mensais do CULTNA (Grupo de pesquisa Cultura Negra no Atlântico) da UFF, discutindo o tema com a historiadora da UFBA, Wlamyra Albuquerque, autora (entre outros) de O Jogo da Dissimulação. Abolição e Cidadania Negra no Brasil (Cia das Letras, 2009). Ela vai apresentar resultados de sua mais recente pesquisa [O estreito terreno entre as margens: cidadania e racialização nos círculos políticos de Rui Barbosa (1869-1919)].
WLAMYRA ALBUQUERQUE discute o texto O estreito terreno entre as margens: cidadania e racialização nos círculos políticos de Rui Barbosa (1869-1919) no CULTNA, dia 20/3, 14 horas, na UFF, Campus do Gragoatá, bloco O.
A micareta cívica do 13-15 de março coincidiu também com o mês dos direitos da Mulher, que tem sua data celebrada no 8 de Março. Evento na PUC-Rio no Próximo dia 19, também começando às 14 horas, é uma das mais importantes iniciativas neste contexto. A grande intelectual e feminista Lélia Gonzales, historiadora, antropóloga e fundadora do Movimento Negro Unificado, teve sua vida e obra homenageadas pelo Projeto Memória Lélia Gonzalez – o feminismo negro no palco da história, iniciativa da Fundação Banco do Brasil. O projeto resultou em exposição, livro fotobiográfico, almanaque histórico, site e vídeo documentário e terá lançamento na PUC-Rio, onde Lélia foi professora, na próxima quinta 19, a partir das 14 horas, com abertura da exposição, exibição do vídeo documentário e mesa teórica (O pensamento teórico de Lélia Gonzalez: revelando a História do Brasil em pretuguês), formada por 4 outras intelectuais (no feminino). Imperdível.
É incrível como passado é utilizado no presente para justificar e\ou apontar questionamentos. Porém, penso como a vossa pessoa professora Hebe “Os usos do passado no presente não aproximam, porém, passado e presente, pelo contrário”.
Mudanças sociais e políticas, dentre outros campos foram (re)significados e contemporaneamente possuem uma nova leitura de ver e pensar o mundo.
Muito elucidativo!!
Como as ciências sociais fazem a diferença (História, filosofia e sociologia)!!! Só elas nos fazem ter clareza do nosso presente e como construir o nosso futuro!!
Por mais tempos nas grades curriculares da escola básica!!!
Ah, achei um texto sobre o Toninho Canecão muito bom!! Obrigada queridas mestras!!
E a respeito…como faço para publicar um artigo? Estou finalizando um trabalho monográfico sobre o jongo e tenho interesse de divulgar esse trabalho. Até porque devo muito aos grupos estudados ( São José e Tamandaré)! E eles merecem muito mais!!!