Como foram de férias? Viajamos ambas por este mundo a fora, renovamos as energias e estamos de volta às nossas conversas. Retomamos com uma pequena nota, mas com a firme intenção de voltar ao nosso papo (sempre que possível) semanal.
Durante o recesso do blog, em 6 de fevereiro, tomou posse em Brasília, a Comissão da Verdade da Escravidão Negra da OAB. Muitos historiadores perguntaram, como assim? Diante da extensa e complexa historiografia sobre tema, o que seria a “verdade” sobre a escravidão negra? Nós, historiadores, sabemos bem o quanto as respostas podem variar conforme a pergunta que fazemos. E que formular questões não é tarefa nada simples, desde a abordagem da questão mais básica – a da relação entre escravidão e racismo. Mas não é de uma comissão de historiadores que se trata. A iniciativa é da Ordem dos Advogados do Brasil e a inspiração é claramente a Comissão da Verdade relativa aos crimes da ditadura militar. Sua metodologia de trabalho ainda está sendo discutida, mas como já desenvolvemos por aqui, a questão da reparação a injustiças históricas de caráter sistêmico, como a escravidão atlântica, é tema em discussão em todo mundo, desde a Conferência de Durban, 2001. Hebe foi convidada a participar como consultora da comissão da OAB. É uma discussão complexa, antes de tudo legal e ética, que em boa hora a iniciativa da OAB traz para o Brasil e na qual, consideramos, os historiadores devem participar. Em 8 de janeiro, em Paris, aconteceu uma jornada de estudos, organizada pelo CIRESC/EHESS, na qual historiadores discutiram as perspectivas internacionais das demandas de reparação relativas à escravidão atlântica e o seu papel nos debates em curso. Entre os participantes, o grupo “Reparative History” da Inglaterra (Universidade de Kent e Universidade de Londres). Com certeza, as estratégias de trabalho da comissão da OAB estarão no nosso cardápio de conversas para 2015.
Primeiro de março, 450 anos da “mui leal e heroica cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro”. Linda cidade. Nossa cidade. Nesse aniversário do Rio, celebramos também a oficialização da candidatura do complexo do cais do Valongo à patrimônio da humanidade da UNESCO. O Memorial dos Pretos Novos, mantido por Merced Guimarães sobre o antigo cemitério dos africanos que morriam imediatamente após a travessia do Atlântico, faz parte do conjunto. Não esquecer a tragédia da travessia é nossa maneira de celebrar o legado cultural deixado pelos que sobreviveram, absolutamente fundamental para construir a cidade como a vivemos hoje, com suas histórias, lutas e milagres.