Arquivo da categoria: história pública

De Moçambique ao Moçambique!

Há muito tempo não fazia um texto solo neste Conversa de Historiadoras, que nasceu a quatro mãos e depois virou obra ainda mais coletiva.

Neste domingo, porém, ele é necessário, porque quero saudar algumas das companheiras de blog, que estão fazendo a diferença neste início de ano e contar de um novo projeto de pesquisa, coletivo, é claro, que estou coordenando na UFJF.  

Pensar a história como ciência social que propõe questões sobre os seres humanos no tempo e, por conta disso, impacta e condiciona a produção de narrativas sobre o passado, é premissa que tem orientado meu trabalho de historiadora neste século XXI. Formular novas questões de pesquisa, a partir de novos lugares sociais de observação, que possam levar a novas narrativas e abordagens da história do Brasil, é também fio condutor deste blog e de suas conversas e norteou nossa última iniciativa coletiva, o curso Emancipações e Pós-abolição: por uma outra história do Brasil.

Uma outra história do Brasil em relação a qual história? Tentei responder esta questão na primeira aula daquele curso. Não vou repetir por aqui tudo que falei por lá, mas entre as instituições de memória que surgiram com a emergência dos estados nacionais no contexto das independências americanas, os Arquivos Nacionais ocupavam lugar de destaque. Entre eles, o Arquivo Nacional Brasileiro, criado pelo estado imperial, “pelo regulamento n. 2, de 2 de janeiro de 1838, com o nome de Arquivo Público do Império, visando a guarda dos documentos relativos à memória nacional e à administração do Estado”. Desde então, a política do que deve ser guardado para a história e o que deve ser esquecido na experiência de gestão política do país passa por essa instituição.

Neste contexto, o anúncio para a direção do AN da nossa colega de blog Ana Flávia Magalhães Pinto, autora de uma vigorosa reflexão historiográfica com novas e iluminadoras questões sobre a experiência negra no Brasil, para além do trauma escravista, é notícia para ser celebrada. Depois de quatro anos de obscurantismo, ela é garantia não apenas de uma gestão acadêmica e profissional, mas também de um olhar inovador e corajoso a frente de uma instituição chave na produção da memória nacional e do racismo institucional que ainda a condiciona.

Ana Flávia Magalhães Pinto nomeada nova diretora do Arquivo Nacional. Foto de Divulgação.

O Blog está com tudo e está prosa. Novas histórias do Brasil, abraçando todos os brasileiros, parecem ainda mais possíveis e mais próximas.

Enquanto isso, na virada do ano, Martha Abreu associava nossa experiência de pesquisa sobre a história e memória do tráfico ilegal de escravizados no atual quilombo do Bracuí, às lideranças do próprio quilombo, ao Laboratório de Arqueologia de Ambientes Aquáticos da UFSE e à equipe de cineastas da Aventura Produções e Edições Educativas, em parceria com o Slave Wrecks Project do Smithsonian Institution National Museum of African American History and Culture, para criar o projeto Afrorigens: dos naufrágios ao quilombos, que já ganhou teaser e página na internet.

O projeto de história e arqueologia públicas revisita o naufrágio criminoso do brigue escravagista Camargo, por seu comandante, o estadunidense Capitão Gordon, após o desembarque ilegal de 503 africanos vindos de Moçambique nas praias da antiga fazenda do Bracuí. Em colaboração com a comunidade quilombola e sua tradição oral, Afrorigens busca registros do passado para alcançar um futuro mais inclusivo. Vale a pena conferir:

Martha Abreu, Marilda de Souza, liderança quilombola e a equipe de arqueólogos e mergulhadores do projeto Afrorigens.

Por fim, como coordenadora do grupo de pesquisa emancipações e pós-abolição em Minas Gerais (GETP-MG), em parceria com a Rede de Patrimônios Imateriais Afroameríndios e Políticas Públicas na América Latina (IRD-FR) e mais cerca de 40 pesquisadores de diferentes universidades, também atuantes no chão da escola, terminei 2022 com a alegria de ver aprovado, no edital Humanidades de CNPq, o projeto Passados Presentes: patrimônios e memórias negras e afro-indígenas em Minas Gerais.

Dos egressos de Moçambique que deram origem ao Quilombo do Bracuí ao vigor do Moçambique, signo maior de africanidade do patrimônio negro de Minas Gerais, delineia-se uma nova etapa do projeto transnacional Passados Presentes (LABHOI/ UFJF/UFF e CLAS/PITT). Propomos dessa vez, como problema de pesquisa, estudar as interações afro-indígenas na história e na memória de quilombolas e de detentores de patrimônios negros como reizados, congadas, moçambiques, jongos e folias de reis, nas Minas Gerais a leste da Mantiqueira, bem como as relações dessas manifestações e de seus sujeitos com a história da África, do associativismo negro e das religiões de matriz africana na região.

A partir de dezenas de pesquisas já em andamento, a ideia é explorar a memória das relações afro-indígena como elemento constituinte da negritude mineira contemporânea em diferentes espaços e temporalidade, com destaque para: 1) a região histórica da mineração, alvo do impacto da imigração maciça de colonizadores portugueses e escravizados africanos sobre áreas indígenas no século XVIII, em torno de Ouro Preto e Mariana, 2) as regiões que se conectaram mais diretamente com a imigração forçada da última geração de africanos e com o processo de etnocídio e desterritorializacão das populações originárias que ainda ocupavam as áreas de ligação entre a região do ouro e os portos do Rio de Janeiro e de Salvador, no século XIX, como o Sul de Minas, o Campo das Vertentes, a Zona da Mata e os Vales do Mucuri e do Jequitinhonha e 3) as cidades que receberam migrações negras no pós-abolição, com destaque para a capital, Belo Horizonte e a cidade de Juiz de Fora.

Os resultados da pesquisa de base vão alimentar o arquivo oral colaborativo Memórias do Cativeiro (LABHOI/UFF/UFJF)/ Afro-Brazilian Heritage (CLAS/PITT) e o banco de dados Passados Presentes: memória da escravidão no Brasil, alargando possibilidades de análises comparadas em novas pesquisas. Serão também divulgados na Plataforma Digital do projeto, tornando-se acessíveis aos detentores dos patrimônios culturais estudados, alguns deles pesquisadores do grupo, permitindo sua utilização na produção de material paradidático, em museus de território, em exposições e aplicativos de memória. O diálogo epistemológico entre saberes se coloca como ferramenta metodológica e desafio teórico do trabalho.

Divulgo, com alegria, a equipe completa do projeto. Enquanto não colocamos no ar nossa plataforma digital, vamos dar notícias do projeto e de sua equipe por aqui.

Para todos nós!

Bom trabalho!

PROJETO: PASSADOS PRESENTES – PATRIMÔNIOS E MEMÓRIAS AFRO-INDÍGENAS EM MINAS GERAIS.

Coordenação Geral: Hebe Mattos (Grupo de Pesquisa Emancipações e Pós-Abolição e LABHOi/Afrikas, UFJF) – hebe.mattos@gmail.com

Coordenação Associada: (PROJETO E BANCO DE DADOS Passados Presentes)

Martha Campos Abreu (LABHOI-UFF) – marthacabreu@gmail.com

Keila Grinberg (CLAS-PITT – UNIVERSITY OF PITTSBURGH) keila.grinberg@gmail.com

Coordenação Executiva (Pesquisa – MG):

Ana Luzia Morais – analuziadasilvamorais@gmail.com (Detentora)

João Paulo Lopes – jopalop@gmail.com (IFSULDEMINAS)

Lívia Nascimento Monteiro – livia.monteiro@unifal-mg.edu.br (UNIFAL-MG)

Jonatas Roque – jonatasroque4@gmail.com, jonatashistoria2010@hotmail.com

Josemeire Alves Pereira – josemeire.hist@gmail.com (FLACSO)

Mariana Bracks Fonseca – marianabracks@academico.ufs.br (UFS)

Pesquisa de arquivo/campo – produção de conteúdo:

Ana Luzia Morais – analuziadasilvamorais@gmail.com

Aline Guerra da Costa – agcosta@id.uff.br

Amanda Lira – amandalira2166@gmail.com

André Luiz Ribeiro de Araújo – andreclassrock@hotmail.com

Carolina dos Santos Bezerra-Perez – carolinaacoesafirmativas@gmail.com

Cleo Souza – cleosouzalh@gmail.com

Daniele Neves – danieleneves1793@gmail.com

Dayana Oliveira – dayanaoliveira01ufjf@gmail.com

Giovana Castro – racinacastro@gmail.com

Isaac Cassemiro Ribeiro – – isaac.ribeiro7@gmail.com

João Paulo Lopes – jopalop@gmail.com

Janete Flor de Maio Fonseca – flormaio@ufop.edu.br

Jéssica Mendes – JESSICAMENDESHIST@gmail.com

Jonatas Roque – jonatasroque4@gmail.com, jonatashistoria2010@hotmail.com

Josemeire Alves Pereira – josemeire.hist@gmail.com

Lívia Nascimento Monteiro – livia.monteiro@unifal-mg.edu.br

Luciano Magela Roza – luciano.roza@ufop.edu.br

Luis Roberto Cruz – luis.cruz@engenharia.ufjf.br

Luiz Gustavo Cota – luiz.g.cota@ufv.br

Luan Pedretti (UFJF) – luanpredetti@gmail.com

Mariana Bracks Fonseca – marianabracks@academico.ufs.br

Maria do Rosário – maria.mrgs@gmail.com

Marlon Marcelo – marlonmarcelo.s@gmail.com

Marileide Lázara – marileidelazara@gmail.com

Roseli dos Santos – selix07@hotmail.com

Rhonnel Américo – rhonnelcoach@gmail.com

Samuel Avelar – savelarjr@gmail.com

Sidnéa Francisca dos Santos – sidnea.ouropreto@gmail.com

Silvia Maria Jardim Brügger – sbrugger1970@gmail.com

Simone Assis – sissamones@hotmail.com

Tayane – tayanearo@gmail.com

Tailane de Oliveira Dias – tailane.o.dias@gmail.com

Vanessa (UFJF) – vanessaloopes13@gmail.com

Consultoria de produção de conteúdo relacionando Minas Gerais, História Pública e História da África:

Fernanda do Nascimento Thomaz (LABHOI/AFRIKAS-UFJF) – fefathomaz@yahoo.com.br

Mônica Lima e Souza (LE AFRICA, UFRJ) – monicalimaesouza@gmail.com

Vanicléia Silva Santos (University of Pensilvania) – vsantos@upenn.edu

Produção de conteúdo didático:

Lívia Nascimento Monteiro – livia.monteiro@unifal-mg.edu.br

Luciano Magela Roza – luciano.roza@ufop.edu.br

Luiz Gustavo Cota – luiz.g.cota@ufv.br

Consultores de conteúdo / Rede Patrimônios Afro-ameríndios na América Latina

Christine Douxami (IRD-Brésil) – chrisluabela@yahoo.fr

Carolina Christiane de Souza Martins (UFPA) – caroldesouzamartins@gmail.com

Matthias Assunção (UNIVERSTY OF ESSEX) – matthias_capoeira@yahoo.com.br

Consultores de conteúdo/ Parceiros na UFJF

Mateus Andrade – mateus.rezende@gmail.com (LAHES)

Robert Daibert Jr – robertdaibert@uol.com.br (LABHOI)

Marcos Olender – marolender@yahoo.com.br (LAPA)

Congado e Moçambique de Pidedade – MG

https://www.facebook.com/CongadaeMocambique/

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200 anos de um país chamado Brasil: é preciso contar outra história.

No ano do bicentenário da independência, o Conversa de Historiadoras entra no debate com o que fazemos de melhor: ensinar.

Originalmente ministrado pelo Canal da Escola de História da UNIRIO no youtube, em 2020, o curso “Emancipações e Pós-Abolição: Por Uma Outra História do Brasil (1808-2020)” ganha agora site próprio.

Emancipações e Pós-abolição: por uma outra história do Brasil – http://numemunirio.org/pos-abolicao

Nele, os duzentos anos de História do Brasil independente são explicados e debatidos a partir de seus principais pilares: o tráfico de africanos escravizados e a escravidão.

Somos oito professoras de universidades publicas brasileiras, discutindo temas como a resistência à escravização, a luta pela liberdade, a cultura negra, as lutas por direitos e o racismo.

O curso agora fica acessível ao grande público em dois formatos: a aula ao vivo, seguida do debate, e o video com a palestra inicial, editado para fins educacionais. Financiado pela FAPERJ, este curso evidencia o compromisso das universidades públicas brasileiras com a ciência, a produção do conhecimento de excelência e a divulgação científica de qualidade.

Vejam o trailer, assistam as aulas, divulguem!

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Seminário Cultna no 13 de Maio discute o livro “O massacre dos libertos”, de Matheus Gato

Que este Treze de maio, dia de luta contra o racismo, seja jornada de luta e protesto contra o massacre do Jacarezinho.

O Seminário CULTNA: Cultura Negra no Atlântico marca presença discutindo um outro massacre de corpos negros, no alvorecer da república brasileira.

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O ano em que não teve carnaval

Este blog nasceu no carnaval de 2014. Desde então, como criadoras do blog, nunca deixamos de postar algo logo após a festa de Momo, ressaltando seu caráter político e de produção pública de leituras do passado. O que fazer neste 2021 em que não teve carnaval?

De repente nos demos conta que estávamos sem um novo texto desde novembro. Muitos compromissos de cada uma de nós separadamente, um certo cansaço das duas veteranas que assinam esta nota… queríamos corrigir isso. Decidimos fazer um texto sobre o não carnaval de 2021.

Mas ele não saiu. Não, como imaginamos.

Não saiu, como a maioria absoluta das instituições carnavalescas – escolas de samba, blocos, trios elétricos, afoxés, maracatus – que ficaram em casa este ano.

Pelo menos, desde o final do século XIX, o carnaval tem um lado oficial, ligado, sobretudo, às autoridades municipais. O carnaval foi adiado ou suspenso no Rio de Janeiro em alguns anos de conflito político da década de 1890. Ainda assim, a supressão do carnaval oficial não tem o poder de eliminar a festa popular. Em 1912, foi adiado para abril, em luto pela morte do Barão de Rio Branco e, ao final, aconteceu duas vezes.

O nível de adesão dos grupos carnavalescos à não folia é o que mais se destacou nas ruas das cidades brasileiras neste 2021. Apesar da tradição e dos prejuízos e perdas de um dos mais ativos circuitos econômicos da indústria cultural do país, respeitaram a vida e o luto, em um claro ato político de interpretação histórica do passado recente.  

O carnaval e os foliões fazem parte das lutas e desafios de seu próprio tempo. Este ano não teve carnaval. O discurso político mais eloquente foi o silêncio.

Sem purpurina, máscaras de pano aguardam a festa de 2022!

Recife, carnaval 2021: O Homem da Meia Noite, foto de Ivanildo Machado, do twitter de Kleber Mendonça Filho.

Foto de abertura: Ettore Chiereguini/Estadão Conteúdo. Sambódromo do Anhambi, 13 de fevereiro 2021

VALE A PENA LER DE NOVO:

O Novo Caso do Bracuí

A cegueira da TV Globo

O Carnaval do #ForaTemer

Samba na universidade

Domingo, 13 de Maio, 130 anos depois…

Viva o Carnaval!

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“Memórias, silenciamentos e invisibilidades: a reparação como política de outridade” é o tema da próxima mesa do ciclo “Juiz de Fora: cidade negra”, que também celebra o recebimento do 15º Prêmio Amigo do Patrimônio (FUNALFA/2020)

Com grande alegria, registro e agradeço, neste blog, o reconhecimento concedido ao Projeto Juiz de Fora: Cidade negra do LABHOI/UFJF pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural por meio da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa).

Outorga o 15º Prêmio Amigo do Patrimônio

Eventos Funalfa

Prezadas Profs. Dnd.Giovana Castro e Dra.Hebe Mattos,

o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural, por meio da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa), tem o prazer de outorgar ao projeto  Juiz de Fora: Cidade Negra – Centro de Referência sobre a Memória Negra na cidade de Juiz de Fora, o 15º Prêmio Amigo do Patrimônio.

Nesta oportunidade, queremos enaltecer a relevância da ação para a cidade de Juiz de Fora, que teve suas linhas escritas e reforçadas por uma historiografia predominantemente branca. O trabalho desenvolvido e executado no âmbito do Laboratório de História Oral e Imagem – LABHOI da UFJF, certamente trará contribuições importantes através das pesquisas, depoimentos e toda documentação sobre memórias negras invisibilizadas nas narrativas oficiais da cidade. Além disso, é fundamental a divulgação do banco de dados sobre as memórias da população negra de Juiz de Fora para a preservação da memória de seu povo, que é subsídio para a criação de laços afetivos com nosso patrimônio cultural.

O resultado da premiação foi divulgado em 30 de setembro de 2020 no portal pjf

Informamos que em decorrência da pandemia, não há previsão para a tradicional cerimônia de entrega das placas. Por essa razão, encaminhamos anexo Certificado que comprova e os reconhece como contemplados com a premiação e solicitamos confirmação do recebimento.

Atenciosamente,

Carine Silva Muguet/ TNS – Historiadora/Ms. História Social – UFRJ/ Supervisora de Pesquisa, Memória e Educação Patrimonial/ SPMEP/DIPAC /FUNALFA/ Juiz de Fora (MG)

A ação é organizada pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural (Comppac), com apoio da Fundação Cultural “Alfredo Ferreira Lage” (Funalfa), por meio da Divisão de Patrimônio Cultural (Dipac) e acontece desde 2006, com objetivo de contemplar iniciativas de pessoas físicas e jurídicas, de direito público ou privado, que tenham praticado ações para conservação, preservação, defesa ou divulgação do patrimônio cultural de Juiz de Fora, além de atividades educativas que visem difundir conceitos que auxiliem na compreensão da importância do patrimônio cultural. A indicação é feita por meio de formulário aberto à comunidade, no qual devem ser apresentadas as justificativas que embasem a premiação e são analisadas por uma comissão indicada pelo Comppac.

Para celebrar a conquista, a próxima sessão do nosso ciclo de debates, com o título Memórias, silenciamentos e invisibilidades: a reparaçao como politica de outridade acontecerá no próximo dia 27 de outubro, às 17:30, no Canal LABHOI/UFJF, no youtube.

Nas palavras de Giovana Castro, que fará a mediação da mesa, citando Grada Kilomba e Lelia Gonzales:

Para descolonizar o conhecimento, temos que entender que todos/as nós falamos de tempos e de lugares específicos, a partir de realidades e histórias específicas. Não existem discursos neutros. (…). Descolonizar o conhecimento significa criar novas configurações de conhecimento e de poder. (KILOMBA, 2016, p. 7–8).

Nesse sentido, é necessário que descolonizemos todo o conhecimento e informação que já recebemos sobre o período escravocrata até o presente momento, pois estaremos falando de um lado da moeda que, ao longo da historiografia, [foi] negligenciado. Estaremos falando a partir da subalternidade, da construção do Outro. Assumimos aqui, então, neste texto, o risco de falar com todas as implicações (GONZALES, 1984, p. 225). 

“Dando continuidade ao debate sobre as construções de subjetividades na cidade, abrimos espaço agora para uma necessária reflexão sobre a narrativa historiográfica e suas interfaces com passados sensíveis e políticas de reparação, para que possamos ambicionar o aprofundamento de memórias coletivas, sob a chancela da escuta do outro enquanto parte dessa teia de poderes, para além da cristalização da sua subjetividade.”

O painel contará com a participação das representantes da FUNALFA Fernanda Amaral, supervisora do Programa Cultural Murilo Mendes e Carine Silva Muguet, supervisora de Pesquisa, Memória e Educação Patrimonial.

Elione Guimarães, pioneira nos estudos do pós-abolição em Minas Gerais e diretora de pesquisa do Arquivo Histórico de Juiz de Fora, juntamente com Raquel Pereira Francisco, professora de história da rede municipal de ensino, ambas doutoras pela UFF e Luan Pedretti, mestrando em Educação/UFJF, integrante do Coletivo Negro Resistência Viva e da Frente Preta da UFJF completam o time de intervenções/depoimentos sobre silenciamentos e políticas de reparação para a memória negra da cidade.

Seguindo a lógica que estrutura o ciclo de debate, para finalizar, eu mesma e Mônica Lima, historiadoras do BLOG, fecharemos os debates relacionando a experiência local com as discussões globais sobre monumentos e memórias sensíveis a que temos nos dedicado nos últimos anos.

Aproveito mais uma vez para agradecer a Giovana Castro, bem como à toda a equipe de bolsistas, pela excelência do trabalho que vem sendo desenvolvido.

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Arquivado em antiracismo, cultura negra, Entrevista, história e memória, história pública, historiografia, politicas de reparação, Pos-abolição

O curso acabou, mas a conversa continua com muitas outras histórias

Ana Flavia Magalhães Pinto

“Companheira me ajude / Que eu não posso andar só / Eu sozinha ando bem / Mas com você ando melhor!”

Quando a pandemia de Covid-19 ocupou o horizonte, instituindo a necessidade do isolamento social logo após o carnaval de 2020, parecia que esses versos cantados e praticados em plena rua e com tanto gosto teriam que ser recolhidos ao silêncio. Os planos traçados nas festas de fim de ano ficaram em suspenso, e o medo da estagnação passou a desafiar a certeza de que outros projetos tão dignos se fariam possíveis. Mas, novamente e sem abrir mão de princípios inegociáveis, muitas de nós inventamos meios de manter acesa a chama do trabalho coletivo e das lutas por justiça e liberdade. Como professoras de universidades federais, comprometidas com o ensino, a pesquisa e a extensão e com a própria defesa da universidade pública, gratuita e de qualidade, a realização do curso “Emancipações e Pós-Abolição: por uma outra história do Brasil”, a partir do chamado da Keila Grinberg, certamente nos é motivo de muito orgulho. As tardes de quarta-feira dos meses de agosto e setembro ficarão na memória como belas demonstrações da força de nós mulheres historiadoras e da legitimidade do nosso trabalho! Ciente dos perversos interesses a mobilizar elogios fáceis ao ensino à distância no Brasil, eu saio dessa experiência com a certeza de que ela só foi possível graças aos anos de investimento em vivências presenciais de pesquisa, trocas de conhecimento, deslocamentos geográficos e contatos diretos com muitas/os outras/os historiadoras/es que têm promovido uma reescrita bem mais justa da história deste país! Parafraseando o presidente Lula, ex-operário que adquiriu o gosto pela leitura de textos historiográficos: “Que ninguém, nunca mais, ouse duvidar da capacidade de luta de uma Conversa de Historiadoras!”. Já sobre a palavra de ordem “A luta continua!”, a gente aproveita para lembrar que a inspiração vem de lutadores da Frente de Libertação de Moçambique na década de 1970!

Giovana Xavier

Historiadoras que ventam novas histórias

O curso Emancipações e Pós-Abolição: por uma outra história do Brasil entrou para a história renovando ares e energias através de abordagens historiográficas instigantes e plurais conduzidas por oito historiadoras, diversas entre si e conectadas pelo compromisso com a escrita de novas histórias. Aprendi bastante em todas as aulas, sentindo-me super feliz de interagir com um público topzeira, composto por pessoas amorosas, empolgadas e mega comprometidas com a democratização do ensino e da pesquisa histórica no Brasil. A aula que ministrei “Intelectuais Negras: história do pós-abolição no tempo presente” é um momento que ficará para sempre no melhor lugar do meu coração. Foi emocionante compartilhar resultados de uma produção científica ligada ao reconhecimento das mulheres negras como protagonistas da história do Brasil. Um movimento, como vimos ainda raro, e que reafirma meu compromisso político de articular teoria e prática, priorizando os saberes das classes trabalhadoras e os diálogos extra-muro universitários. Tudo isso, não por acaso, às quartas-feiras, dia regido por Iansã, a yabá que divide com Xangô o segredo do fogo e espalha os ventos da mudança. Obrigada Meninas! Obrigada gente pela participação e por tantas mensagens de apoio e carinho. Axé! 

Hebe Mattos

Quando criamos este Blog no carnaval de 2014, eu e Martha Abreu, escrevemos que, “como historiadoras, pensamos ser importante participar hoje do debate sobre os significados do passado escravista para o país e sobre o papel de nossa  própria disciplina para a implantação de políticas públicas de combate ao racismo, nos campos educacional  e cultural.” Na época, não imaginamos porém que o Blog teria vida tão longa, que nossas conversas se renovariam e diversificariam com a entrada do colegas mais jovens e absolutamente brilhantes, e que nossos sonhos de atingirmos públicos mais amplos se realizariam com a amplitude e força desse trabalho conjunto, com mais de 1600 alunos regulares com direito a certificado, como aconteceu neste curso de extensão, proposto por Keila Grinberg e a UNIRIO e que ganhou o título Emancipações e Pós-abolição: por uma outra história do Brasil. Com ele, a profundidade da conversa no Blog, bem como seu público, atingiram um novo patamar. Ainda que o argumento central de cada uma das sessões, como nós as imaginamos, nos permitisse esperar um certo grau de coesão, o nível de diálogo, encantamento e integração do curso surpreendeu a todas. A sequência das aulas parecia coreografada. Não havia obrigatoriedade de estarmos juntas todas, todos os dias, mas ninguém arredou pé. Cada uma dava aula para as outras, cada aula nos desafiava a ir além. Quase uma roda de jongo em que o verso se fez história. Ubuntu, sigamos juntas.

Martha Abreu

Recebi algumas mensagens de alunos e orientandos de nosso grupo de pesquisa que demonstram, de forma efetiva e afetiva, alguns resultados: “Assisti todas as oito aulas, me emocionei com todas elas e me sinto transformado e empoderado, muito obrigado de coração!; “Obrigado todos os professores, foi um curso potente e transformador”; “Parabéns a todos os envolvidos no curso, foi de fato incrível com tantas aulas maravilhosas”; “As aulas deram o gás que a gente estava precisando nesses tempos tenebrosos. Foram realmente emocionantes”.

Emancipações e Pós-Abolição: Por uma outra História do Brasil (1808-2020) foi um curso que impactou todos nós. De início não tínhamos muita ideia do tamanho da plateia, nem do potencial de transformação que o curso poderia alcançar ao trazer outros temas, enfoques e perspectivas da história do Brasil a partir do protagonismo negro nas lutas pela liberdade e cidadania.

Pessoalmente, o curso chegou num momento muito difícil de minha vida, mas me propiciou enorme aprendizado e reflexão sobre a importância da história e do ofício do historiador. Era só um dia na semana, mas uma hora marcada para novos encontros, outras lutas e renovados sentidos da vida. Obrigada parceiras do blog e do curso! Obrigada Unirio! 

Mônica Lima

A força desse encontro                                                                                                   

Desde o dia 05 de agosto de 2020, durante oito semanas, todas as quartas-feiras, um pouco antes das cinco da tarde, passei a me encontrar com um grupo de historiadoras brasileiras das mais incríveis para me preparar para uma aula sobre história do Brasil, tendo como foco central a população negra e africana em suas lutas por liberdade e direitos, antes e depois da abolição. Poderia ser mais um encontro acadêmico num curso de extensão bacana, se não fossem elas e tudo o que havia para aprender e refletir a partir do que disseram, e se não houvesse um público interessado, entusiasmado e inteligente interagindo o tempo todo conosco. A cada aula, novas histórias e olhares sobre o que se sabia, sempre buscando a delicadeza e a inteireza, por estarmos lidando com temas sensíveis e com histórias longamente silenciadas. E era uma alegria só aprender, compartilhar conhecimento e perceber que tudo o que estudamos e pesquisamos faz muito mais sentido quando apresentado e dialogado com as pessoas, e sobretudo com um público genuinamente interessado. Havia muitos professores, o que dá a nítida sensação de que tudo isso poderá se multiplicar lindamente em aulas, estudos, propostas didáticas – e chegar a ainda mais pessoas. Nesse tempo tão cinzento de desesperança, o curso Emancipações e pós-abolição: por uma outra história do Brasil (1808-1820) me permitiu pensar em dias mais luminosos, em noites de festa, na força que temos e na herança de luta que nos legaram. Só agradeço.

Ynaê Lopes dos Santos

” Existe um ditado africano que diz “a união do rebanho obriga o leão a ir deitar-se com fome”. Tais palavras demonstram a força do trabalho em conjunto, o poder do coletivo. E foi essa a força que experimentei no curso Emancipações e Pós Abolição: por uma outra história do Brasil (1808-2020). Durante 8 aulas, muito bem acompanhada por 7 colegas/referências e por mais de 1600 estudantes, me vi ora no lugar de professora, ora no lugar de aluna, girando essa roda poderosa que é ensinar-e-aprender. Falamos juntas, pensamos diferentes, perguntamos nossas angústias e pudemos experimentar o fazer história a partir de um novo lugar. Uma vivência e tanto, que agradeço e já vejo se perpetuar.”

Keila Grinberg

‘Não há mal que sempre perdure, não há bem que nunca se acabe’. Fiquei com este ditado na cabeça ao pensar sobre este curso incrível, ministrado em conjunto e transmitido ao vivo por oito professoras-historiadoras. Não há bem que nunca se acabe, e foi com tristeza que nossas aulas chegaram ao fim. Juntas, nós refletimos sobre uma outra historia do Brasil. À interpretação colonial, patriarcal e branca que ainda impera em tantas narrativas tradicionais, nós propusemos uma versão que não negasse a tragédia da escravidão na historia do Brasil, mas que também reconhecesse a centralidade da cultura negra e da luta antirracista na construção de uma sociedade de fato justa e democrática. Nestes tempos difíceis, este futuro pode parecer tão distante, e às vezes até inalcançável, mas é nestas horas que é importante lembrar: não há mal que sempre perdure, e este também vai passar. Muito, muito obrigada a todos que embarcaram nesta viagem conosco. Seguimos juntas. 

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A aula 8 está no Blog!!!! E não é o último post do curso!

Foi linda demais a aula de encerramento do nosso curso, da maravilhosa professora Mônica Lima. Uma aula para a gente não esquecer, para ver e rever também aqui no blog, com toda a sua bibliografia.

Mônica Lima (UFRJ)

Mas ainda não é nossa despedida. A experiência de estarmos juntas durante o curso foi extremamente marcante para todas nós. No post do próximo domingo, vamos escrever sobre ela.

Referência das fontes utilizadas (na ordem de aparição na aula):

Carta ao Governador da Capitania do Piauí, escrita por Esperança Garcia em 6 de setembro de 1770: SOUSA, Maria Sueli Rodrigues de e outros. Dossiê Esperança Garcia: símbolo da resistência na luta pelo direito. Teresina: EDUFPI, 2017.

Tratado de Paz proposto por escravizados rebelados do Engenho de Santana, em Ilhéus (BA) em 1789: REIS, João José e SILVA, Eduardo. Negociação e conflito. A resistência negra no Brasil escravista. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

Trecho da fala de Susana, uma escravizada, no romance Úrsula: REIS, Maria Firmina dos. Úrsula. São Paulo: Penguin & Companhia das Letras, 2018.

Trecho do “Rap das Reparações”, publicado no Jornal das Reparações (São Paulo, dezembro 1993, p. 4): DOMINGUES, Petrônio. Agenciar raça, reinventar a nação: o Movimento Pelas Reparações no Brasil. Análise Social, nº227, 2018, pp. 332-361.

Trecho de carta escrita por Comissão de Libertos na Estação do Paty a Ruy Barbosa, 19 de abril de 1889: ALBUQUERQUE, Wlamyra. O jogo da dissimulação; abolição e cidadania negra no Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 2009

Trecho do documentário Manifestações Negras Ontem e Hoje (1988-2020), do CULTNE: Acessível integralmente em https://www.youtube.com/watch?v=9ewpZ…

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBERTI, Verena e PEREIRA, Amilcar. Histórias do movimento negro no Brasil. Depoimentos ao CPDOC. Rio de Janeiro: Pallas, 2007.

ALBUQUERQUE, Wlamyra. O jogo da dissimulação; abolição e cidadania negra no Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 2009.

ARAUJO, Ana Lucia. Reparations for slavery and the salve trade. A transnational and comparative history. New York: Blomsburry Academic, 2017.

DOMINGUES, Petrônio.  Agenciar raça, reinventar a nação: o Movimento Pelas Reparações no Brasil. Análise Social, nº227, 2018, pp. 332-361.

GARCIA, Januário. 25 anos do movimento negro no Brasil. Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006.

GOMES, Nilma Lino. O movimento negro educador. Saberes construídos na luta por emancipação. Petrópolis, RJ: vozes, 2017.

GRINBERG. Keila, MATTOS e FISCHER, Brodwyin. Direito, silêncio e racialização das desigualdades na sociedade brasileira. In ANDREWS, George Reid & LA FUENTE, Alejandro de. Estudos afro-latino-americanos: uma introdução. Ciudad Autonoma de Buenos Aires: CLACSO, 2018.

LIMA, Ivana S., GRINBERG, Keila e AARÃO REIS, Daniel. Instituições nefandas: o fim da escravidão no Brasil, nos Estados Unidos e na Rússia. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 2018.

MATTOS, Hebe, ABREU, Martha, GURAN, Milton. Por uma história pública dos africanos escravizados no Brasil. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 27, nº 54, julho-dezembro de 2014, p. 255-273.

MONTEIRO, Ana Carolina Lima e RIBEIRO, Cristina Figueiredo Terezo. Verdade, Justiça e Reparação para a América Latina à luz da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. IX Seminário Internacional de Direitos Humanos da UFPB. Universidade Federal da Paraíba, 6 a 9 de dezembro de 2016. Paper acessível em http://www.ufpb.br/evento/index.php/i… (acesso em 22 de setembro de 2020)

MULHOLLAND, Caitlin Sampaio e PIRES, Thula Rafaela de Oliveira. O reflexo das lutas por reconhecimento no Direito Civil Constitucional. Paper acessível em http://www.publicadireito.com.br/arti…

PINEAU, Marisa (org). Huellas y legados de la esclavitud em las Americas. Projeto Unesco La Ruta Del Escravo. Saenz Peña: Universidad Nacional Tres de Febrero, 2012.

PROJETO A COR DA CULTURA. Heróis de Todo o Mundo. Programas curtos sobre a trajetória de personagens negros da história do Brasil. Acessível em http://antigo.acordacultura.org.br/he…

REIS, João José e SILVA, Eduardo. Negociação e conflito. A resistência negra no Brasil escravista. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

REIS, Maria Firmina dos. Úrsula. São Paulo: Penguin & Companhia das Letras, 2018.

SAILLLANT, Francine. Reconhecimento e reparações. O exemplo do movimento negro no Brasil. In MATTOS, Hebe (org). História oral e comunidades. Reparações e culturas negras. São Paulo: Letra e Voz, 2016, p.17-48.

SILVA, Ana Célia da. Uma foto: o Movimento Negro Unificado-BA e a Reunião da SBPC em 1981 em Salvador. Artigo no blog Conversa de Historiadoras, junho de 2020. Acessível em https://conversadehistoriadoras.com/2…

SOUSA, Maria Sueli Rodrigues de e outros. Dossiê Esperança Garcia: símbolo da resistência na luta pelo direito. Teresina: EDUFPI, 2017.

VUCKOVIC, Nadia. Quem pede reparações e por quais crimes? Epílogo de FERRO, Marc. O livro negro do colonialismo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. p.884-913

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A aula 7 está no Blog! E caminhamos para o gran-finale…

A aula de Giovana Xavier foi impactante, trazendo o tempo presente e o protagonismo intelectual da mulher negra como questão para (re)pensar a história do Brasil. Para quem não viu, para quem quiser ver de novo, a aula está arquivada aqui Blog com a bibliografia disponível no final do post.

Aula de Giovana Xavier (UFRJ)

E caminhamos para o gran-finale com a aula de Mônica Lima (UFRJ), com o título Direitos, reparação e a história africana e afro-brasileira no campo da história pública.

Aqui uma degustação do que virá, nas palavras da professora:

“Como vimos nas aulas anteriores do nosso curso, a luta por direitos está na pauta da população negra no Brasil desde os tempos da legalidade da escravidão. No pós-abolição, essa luta assume novos aspectos e traz para arena política demandas referenciadas na ideia de que a pesada herança da opressão escravista se traduziu em prejuízos para os descendentes, que portanto fazem jus a medidas de caráter reparatório para poder enfrentar a situação em que foram colocados por essa injustiça histórica. O movimento negro brasileiro, em suas diferentes expressões ao longo do século vinte, passa a reivindicar o reconhecimento da responsabilidade da sociedade e do Estado brasileiro com relação à desigualdade racial, ao mesmo tempo em que as lutas sociais no campo e na cidade pressionam no mesmo sentido. Os debates prévios e a Constituição de 1988 constituem momentos chave e inserem na principal referência legal do país os direitos quilombolas e o reconhecimento do crime de racismo como inafiançável e imprescritível. A participação brasileira na Conferência de Durban em 2001 se traduz em pressão internacional e compromissos com a condenação ao tráfico escravista e à escravidão, bem como reconhecimento da importância da participação africana e negra na construção do país. E, a partir de 2003, a lei 10639, resultante de uma longa história de reinvindicação do movimento negro, passa a servir como instrumento de importantes transformações no campo da educação e da produção intelectual sobre a história e a cultura afro-brasileira e africana. As ações afirmativas traduzidas na política de cotas constituem marcos contemporâneos de políticas compensatórias no país, e o reconhecimento de sua constitucionalidade um sinal de que os determinantes, a presença e os efeitos do racismo podem ser percebidos por integrantes da esfera jurídico-institucional – mesmo que esta seja historicamente vinculada a interesses das excludentes elites brasileiras. No plano internacional, com fortes repercussões locais, se apresenta e se reconhece o primeiro patrimônio mundial brasileiro com sua justificativa centrada na história da escravidão: o Cais do Valongo, no Rio de Janeiro. No entanto, este longo histórico de lutas e as conquistas dele derivadas ocorre num cenário nada tranquilo, com o crescimento da desigualdade racial no plano econômico, na opressão e silêncio sobre a violência sobre mulheres negras, no progressivo encarceramento e extermínio da população negra, em especial jovem e masculina. As demandas por reparação ganham, por essas razões, muito mais força. Considerando esse passado tão presente, o que a história pública, o ensino e pesquisa de história e cultura afro-brasileira hoje tem a dizer sobre isso? Em que o reconhecimento de uma injustiça histórica e da necessidade de políticas de reparação se relacionam com os temas e questões trazidos por nossas aulas e por nossa atuação como historiadoras comprometidas com a luta antirracista?”

Aula 7

Intelectuais Negras: histórias do pós-abolição no tempo presente

Profa. Dra. Giovana Xavier (UFRJ)

Data: 16/09/2020

Referências bibliográficas

Alcino do Amaral. Desvendando o “mundo manicongo”: na esteira da diáspora, o afrorap de Rincon Sapiência. Monografia (Bacharelado em História), Instituto de História, 2020 (trabalho em andamento).

Angela Davis. “Black Women and The Academy”. In: Jacqueline Bobo; Cynthia Hudley; Claudine Michel. The Black Studies Reader.  New York: Routledge, 2004. pp. 91-99.

Azoilda Loretto da Trindade. “Fragmentos de um discurso sobre afetividade”. In: Caderno Modos de Brincar, 3 TMP. Disponível em: http://www.acordacultura.org.br/ sites/default/files/kit/Caderno1_ModosDeVer.pdf Acesso: 09/03/2015.

bell hooks. Teoria feminista negra: da margem ao centro. São Paulo: Perspectiva, 2019.

_____. _____. “Intelectuais Negras”. Revista Estudos Feministas/ Dossiê Mulheres Negras, Rio de Janeiro: IFCS/ UFRJ; Florianópolis: UFSC, v. 3, n. 2, 1995, pp. 464-478.

Bianca Santana. A escrita de si de mulheres negras: memória e resistência ao racismo. (Doutorado em Ciências) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo , São Paulo, 2020.

Carolina Maria de Jesus. Diário de Bitita. São Paulo: SESI-SP, 2014.

Claudete Silva. Virou regra. São Paulo: Scortecci Editora: 2010.

_____. _____. A solidão da mulher negra: sua subjetividade e seu preterimento pelo homem negro na cidade de São Paulo. PUC-SP , Tese (Doutorado em Ciências Sociais), 2008. Disponível em: https://tede2.pucsp.br/handle/handle/3915 Acesso: 20 set. 2020.

Conceição Evaristo. “Da grafia desenho de minha mãe um dos lugares do nascimento da minha escrita”. In: Marcos Antônio Alexandre (Org.). Representações Performáticas Brasileiras: teorias, práticas e suas interfaces. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2007, pp. 16-21.

Deise Benedito. “Chocolate, o sabor da tortura”, Carta Capital, 07 de setembro de 2019. Disponível em: https://midia4p.cartacapital.com.br/chocolate-o-sabor-da-tortura-por-deise-benedito/ Acesso 25 jul. 2020

Denise Marinho. “Marcha de Mulheres Negras: narrativas fotográficas, representatividade e ressignificação do espaço urbana na praia de Copacabana, Cidade do Rio de Janeiro”. XII Reunião de Antropologia do Mercosul, 2019.

Djamila Ribeiro. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento, Justificando, 2017.

Evelyn Beatriz Lucena Machado. Mulheres negras e o ensino de História da escravidão. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em Ensino de História da UFRJ, Rio de Janeiro, 2018.

Giovana Xavier. Você pode substituir Mulheres Negras como objeto de estudo por Mulheres Negras contando sua própria história. Rio de Janeiro: Malê, 2019.

_____. _____. Intelectuais Negras: Visíveis. Rio de Janeiro: Malê, 2017. Disponível em: www.intelectuaisnegras.com Acesso: 20 set. 2020.

_____. _____. Maria de Lourdes Vale do Nascimento: uma intelectual negra do pós-abolição. Niterói: EDUFF (no prelo 2020).

_____. _____. “Ciência de mulheres negras: liderança acadêmica e pesquisa ativista no Brasil”. Plano de Desenvolvimento Individual apoiado pelo Programa de Aceleração e Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras Marielle Franco do Baobá – Fundo para Equidade Racial, 2020.

_____. _____. “Carolina Maria de Jesus: intérprete do Brasil”. O Globo, Projeto Celina, 11/05/2020. Disponível em: https://oglobo.globo.com/celina/carolina-maria-de-jesus-interprete-do-brasil-24424834 Acesso: 01 set. 2020.

Joselina da Silva. “Doutoras professoras negras: o que nos dizem os indicadores sociais”. Perspectiva, Florianópolis, v. 28, n. 1, p. 19-36, jan./jun. 2010. Disponível em: https://doi.org/10.5007/2175-795X.2010v28n1p19  Acesso em: 14 jun. 2020.

Jurema Werneck. “Nossos passos vêm de longe! Movimentos de mulheres negras e estratégias políticas contra o sexismo e o racismo”. In: Vents d’Est, vents d’Ouest: Mouvements de femmes et féminismes anticoloniaux [en línea]. Genève: Graduate Institute Publications, 2009. Disponível em: <http://books.openedition.org/iheid/6316&gt;. ISBN: 9782940503827. DOI: 10.4000/books.iheid.6316 Acesso em: 14 jun. 2020.

Kimberlé Crenshaw. “Mapping the Margins: Intersectionality, Identity Politics, and Violence Against Women of Color”, Stanford Law Review, v. 43, n. 6, pp.1241-1299.

Lélia de Almeida Gonzaléz. “A categoria político cultural de amefricanidade”. Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, n. 92/93 ( jan/jun), 1988, pp.69-82. Disponível em: https:// negrasoulblog.files.wordpress.com/2016/04/a-categoria-polc3adtico-cultural-de- amefricanidade-lelia-gonzales1.pdf Acesso: 02/04/2019.

Lúcia Xavier. “O corona vírus não tem nada de democrático. Ele tem “preferências” e os negros são um dos grupos preferidos dele”. Entrevista ao Portal Gênero e Número, 16 de abril de 2020. Disponível em: http://www.generonumero.media/entrevista-o-coronavirus-nao-tem-nada-de-democratico-ele-tem-preferencias-e-os-negros-sao-um-dos-grupos-preferidos-dele/ Acesso 25 jul. 2020.

_____. _____. Entrevista para a Revista Saúde em Foco. Rio de Janeiro, n. 5, v. 1, jan.jun. 2020, pp. 07-17. Disponível em: https://smsrio.org/revista/index.php/revsf/article/view/708/619 Acesso: 20 set. 2020.

Maria Beatriz Nascimento. “Por um território (Novo) existencial e físico”. In: Beatriz Nascimento: quilombola e intelectual. Diáspora Africana: Filhos da África, 2018. , pp. 413-432.

Maria Clara Araújo.“A educação como fator transformador”. TED, 2015. Disponível em: https://amara.org/en/videos/q0AQ159BlnqU/pt-br/1251337/. Acesso: 02/04/2019.

Martha Campos Abreu, Hebe Mattos. Passados presentes. Rio de Janeiro: Laboratório de História Oral e Imagem, Universidade Federal Fluminense (LABHOI/UFF), 2005-2011. Coletânea de quatro DVDs.

Miriam Alves. Maréia. Rio de Janeiro: Malê, 2019.

Mônica Cunha. “Desconstruindo a expressão mãe de bandido”. Rio de Janeiro, Jornal O Globo, Projeto Celina, 09 de maio de 2020. Disponível em: https://oglobo.globo.com/ela/celina/monica-cunha/ Acesso 09 mai. 2020.

Pâmela Cristina Nunes de Carvalho. ‘Pisa na matamba’: epistemologia jongueira e reeducação das relações raciais. 2020. f. Dissertação (Mestrado em Educação) -Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRJ, Rio de Janeiro, 2020.

Nayara Cristina dos Santos: Clementina de Jesus: samba de terreiro e associativismo negro (1960-1985). Monografia (Bacharelado em História), Instituto de História, 2020 (trabalho em andamento).

Patricia Hill Collins. Pensamento feminista negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento.. São Paulo: Boitempo, 2019.

Ryane Leão. Tudo nela brilha e queima. São Paulo: Planeta, 2017.

Sueli Carneiro. Escritos de uma vida. Belo Horizonte: Letramento, 2018.

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A aula 6 está no Blog! Chegou a hora e a vez de pensar o tempo presente e a emergência das intelectuais negras

A aula de Martha Abreu foi um show de emoção e conhecimento. Quem não viu, confira aqui no Blog. Quem assistiu, vale a pena ver de novo e conferir a bibliografia completa ao final do post.

Aula de Martha Abreu (UFF/UNIRIO)

Na sequência da aula, Martha deu também uma super entrevista ao Podcast do IMAM (Laboratório de Imagem, Memória, Arte e Metrópole da UFRJ) e do BR-PHCP (Pesquisadores em História Cultural e Politica da UFF) comandado por Andréa Casanova e Karla Carloni.

Discussão sobre o campo de estudos do Pós-abolição no Brasil, desafios e perspectivas para a historiografia contemporânea.

Na próxima quarta, é a hora e a vez de Giovana Xavier, professora da UFRJ,

Giovana Xavier – UFRJ

Ela vai nos falar sobre o tema “Intelectuais Negras: história do pós-abolição no tempo presente“. Em suas palavras:

“Meu objetivo é fazer uma aula de história do Brasil fundamentada na história intelectual de mulheres negras. Uma abordagem historiográfica originária da articulação entre História Social e Pensamento Feminista Negro. Alternativa ao eurocentrismo, tal abordagem caracteriza-se pelo compromisso com o diálogo e a produção teórica extra-muros universitários e pelo investimento em ensinar e pesquisar trajetos e experiências das classes trabalhadoras com aportes teórico-metodológicos exclusivos de autoras negras – brasileirxs, afro-americanxs e latinxs. Inspirada pelo conceito de “linha de continuidade histórica”, da historiadora Maria Beatriz Nascimento (1942-1995), apresentarei exemplos de trabalho nessa nova perspectiva e também uma genealogia de intelectuais negras brasileiras entre os séculos XIX e XXI. Integrada por mulheres como Maria Firmina dos Reis (1822-1917), Carolina Maria de Jesus (1914-1977) e nossas contemporâneas Conceição Evaristo, Deise Benedito, Lúcia Xavier, Maria Clara Araújo, Miriam Alves, Sueli Carneiro, esta genealogia contribui para expandir os sentidos de intelectual e criar novos marcos temporais para estudo da história do Brasil. Alinhada à premissa feminista negra de articulação entre pensar e fazer e em sintonia com as transformações nas universidades públicas e no mercado editorial, o programa da aula também abrange temas como: demandas de novas gerações acadêmicas, desafios à validação de conhecimentos científicos de intelectuais negras e a sala de aula como espaço de autoria, pesquisa e produção de novos sentidos de academia.”

Aula 6: O pós abolição e a luta antirracista no campo cultural

Martha Abreu (UFF/UNIRIO)

Bibliografia:

ABREU, M., DANTAS, C. V., MATTOS, H., LONER, B. e MONSMA, K.(Orgs.) Histórias do pós-abolição no mundo Atlântico. Niterói, Eduff, vol. 1, 2 e 3, 2013 (disponível on line).

ABREU, M.. XAVIER, G., BRASIL, E., MONTEIRO, L. (orgs). Cultura Negra, Novos Desafios para os Historiadores (vol. 2 – Trajetórias e Lutas de Intelectuais Negros). Niterói: Eduff, 2018, p. 266-196 (disponível on line).

ABREU, Martha. Da Senzala ao Palco. Canções Escravas e Racismo nas Américas,  1870-1930. Coleção Historia Ilustrada, Editora da Unicamp [e-pub3 e e-pub2], 2017.

ALBUQUERQUE, Wlamyra. O Jogo da dissimulação: abolição e cidadania negra no Brasil. São Paulo, companhia das Letras, 2009.

ARANTES, Erika Bastos. A estiva se diverte: organizações recreativas dos trabalhadores do porto carioca nas primeiras décadas do século XX. Revista Tempo. Vol. 31, no. 27.

BARBOSA, Alessandra T. de S. Pessanha. “A Escola de Samba tira negro do local da informalidade”: Agências e associativismos negros a partir da trajetória de Mano Eloy (1930-1940), Tese de Doutorado. PPGH/UFRRJ, 2018.

CASTILLO, Lisa Earl. “Bamboxê Obitikô e a expansão do culto aos orixás (século XIX): uma rede religiosa afroatlântica”. Revista Tempo  Vol. 22 n. 39. 2016.

CHALHOUB, Sidney e PINTO, Ana Flávia Magalhães. Pensadores Negros, Pensadoras Negras (Brasil séculos XIX e XX). Cruz das Almas, EDUFRB, Belo Horizonte, Fino Trato, 2016.

CUNHA, Maria Clementina Pereira. “Não tá sopa”: sambas e sambistas no Rio de Janeiro, de 1890 a 1930. Coleção Historia Ilustrada, Editora da Unicamp [e-pub3 e e-pub2], 2015.

DANTAS, Carolina Viana e Abreu, Martha. Monteiro Lopes e Eduardo das Neves: histórias não contadas de Primeira República. Coleção Biografias do Pós-abolição. Niteroi, (no prelo)

DOMINGUES, Petrônio. Protagonismo negro em São Paulo. História e Historiografia. São Paulo, SESC, 2019.

DOMINGUES, Petrônio. Cidadania por um fio: o associativismo negro no Rio de Janeiro (1888-1930). Revista Brasileira de História. São Paul, v. 34, no. 67, 2014.

GOLDMACHER, M., BADARÓ, M., TERRA, P. C. Faces do trabalho: escravizados e livres. Niteroi, Eduff, 2010.

GOMES, Angela C. e Abreu, M. A nova “Velha” República: um pouco de história e historiografia Revista Tempo Nº 26 Vol. 13 – Jan. 2009

GOMES, Flavio. Negros e Política (1888-1937). Rio de Janeiro, Zahar, 2005.

GOMES, Flávio S e CUNHA, Olivia. Quase cidadão: histórias e antropologias da pós- -emancipação no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2007.

GOMES, Flavio e Domingues, Petrônio (orgs). Experiências da Emancipação. Biografias, instituições e movimentos sociais no pós-abolição (1890-1980). São Paulo, Selo Negro, 2011.

LONER, Beatriz. Construção de Classe: Operários de Pelotas e Rio Grande. Pelotas, Ed. UFPEL. 2016

LOPES, Nei. Partido-Alto, Samba de Bamba. Rio de Janeiro: Pallas, 2005.

MATTOS, Hebe. “A Vida Política (Além do Voto: Cidadania e Participação Política na Primeira República Brasileira)”. In: Lilia Moritz Schwarcz. (Org.). História do Brasil Nação: 1808-2010, Vol.3. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

MATTOS, Hebe & ABREU, Martha. “Jongo, registros de uma história”. In: LARA, Silvia & PACHECO, Gustavo (org.). Memória do jongo, as gravações históricas de Stanley J. Stein, Vassouras, 1949.  Rio de Janeiro, Folha Seca, Campinas, Cecult, 2007.

MATTOS, Hebe & RIOS, Ana Lugão. Memórias do cativeiro. Família, trabalho e cidadania no pós-Abolição, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2005.

MENDONÇA, Joseli Maria Nunes de. Evaristo de Moraes: tribuno da República. Campinas, Ed. da UNICAMP, 2007.

MONSMA, Karl. A reprodução do racismo. Fazendeiros, negros e imigrantes no oeste paulista, 1880-1914. São Carlos, EDUFSCAR, 2016.

MORAES, Renata Figueiredo. As festas da Abolição: O 13 de Maio e seus significados no Rio de Janeiro (1888-1908). PPGH PUC/RJ, Tese de Doutorado, 2012.

NASCIMENTO, ALVARO P. Cidadania, Cor e Disciplina na Revolta dos Marinheiros de 1910. Rio de Janeiro, Mauad/Faperj, 2008.

NEPOMUCENO, Eric Brasil. Carnavais Atlânticos: cidadania e cultura negra no pós-abolição. Rio de Janeiro e Port-of-Spain, Trinidad (1838-1920). Tese de Doutorado, PPGH/UFF, 2017.

OLIVEIRA, Fernanda. As lutas políticas nos clubes negros: culturas negras, cidadania e racialização na fronteira Brasil-Uruguai no pós-abolição (1870-1960). Tese de Doutorado. Porto Alegre, UFRGS.

PARÉS, Luis Nicolau. A Formação do Candomblé. História e Ritual da nação jeje na Bahia. Campinas, Ed. Unicamp, ebook, 2018.

POSSIDONIO, Eduardo. Entre Ngangas e Manipansos. A religiosidade centro-afriana nas freguesias urbanas do Rio de Janeiro de fins do oitocentos (1870-1900). Salvador, Sagga, 2018.

PEREIRA, Amilcar. O mundo negro: relações raciais e a constituição do movimento negro contemporâneo no Brasil. Rio de Janeiro: Pallas, 2013.

PEREIRA, Leonardo, A. M. Os Anjos da Meia-Noite: trabalhadores, lazer e direitos no Rio de Janeiro da Primeira República. Revista Tempo, 2013, vol.19, n.35.

PEREIRA, Leonardo, A. M As barricadas da saúde. Vacina e protesto popular no Rio de Janeiro da primeira república. São Paulo, Editora Fundação Perseu Abramo, 2002.

PINTO, Ana Flávia Magalhães. Escritos de Liberdade: literatos negros, racismo e cidadania no Brasil oitocentista. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2018.

SANTOS, Aderaldo Pereira. A Arma da Educação: Cultura política, cidadania, antirracismo nas experiências do professor Hemetério José dos Santos (1870 – 1930). Tese de Doutorado. Faculdade de Educação, UFRJ, 2018.

SCHUELER, Alessandra de. Felismina e Libertina vão à escola:  Notas sobre a escolarização nas freguesias de Santa Rita e Santana (Rio de Janeiro, 1888-1906). Revista História da Educação. Vol. 19, no. 46. Santa Maria, 2015.

SILVA, Alessandra L. Pela Liberdade e Contra o Preconceito de Cor: a trajetória de Israel Soares. Revista Eletrônica Documento e Monumento, 21, julho, 2017.

SILVA, Sormani. Mano Eloi e o samba na dinâmica da cultura brasileira. Um semeador de escolas de samba. Textos escolhidos de cultura e arte populares. Rio de Janeiro, vol. 12, no. 2, 2015.

XAVIER, Giovana. Histórias da escravidão e do pós-abolição para as escolas. Salvador, Ed. UFRB/Fino Trato, 2016.

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Por uma outra história do Brasil… a aula 5 está no Blog!

Ainda sob impacto da vibrante discussão sobre cidadania negra e republicanismo proposta por Wlamyra Albuquerque …

Aula de Wlamyra Albuquerque em 2 de setembro de 2020

… nesta semana, em que se celebra o nascimento do primeiro estado nacional brasileiro, monárquico e escravista, o nosso curso vai continuar a falar de república e pós-abolição, com o tema ‘O pós-abolição e a luta antirracista no campo cultural”, com a professora Martha Abreu.

Martha Abreu – UFF/UNIRIO

Em suas palavras:

“O fortalecimento do campo de estudos sobre o pós-abolição – que se destaca por problematizar uma  história não contada do racismo e das lutas antirracistas –   tem permitido a criação de outras narrativas sobre a história republicana, muito além da versão, ainda muito difundida,  sobre um único destino para os libertos:  “Da Senzala à Favela” a partir da experiência da marginalização. 

Este tipo de narrativa não só silencia sobre a continuidade do protagonismo dos descendentes de escravizados, como desconsidera a atuação, em termos políticos e culturais, dos descendentes de uma majoritária população negra nascida livre desde o período colonial, como temos visto neste curso.

De acordo com uma “velha” interpretação sobre a Primeira República,  o “povo” e a população negra,  sem dúvida recorrentemente excluídos das instâncias de poder e estigmatizados pelas construções racializadas sobre seus corpos e comportamentos,  teria se afastado das lutas pela cidadania, assumindo e aceitando a marginalização e as imagens inferiorizadas que lhes foram impostas. 

Nesta aula, pretendo  apresentar uma série de indicadores  de que as lutas pela cidadania não foram abandonadas –  muito menos  esquecidas no pós-abolição.  Pelo contrário, através de estudos biográficos sobre intelectuais de diversas áreas, inclusive músicos populares negros, sobre a fundação de  associações civis, políticas e culturais, sobre a organização de jornais,  mobilizações eleitorais e sindicais,  batuques e carnavais negros, uma pujante nova produção historiográfica tem reconstruído a história republicana a partir de ações e movimentos negros antirracistas e por direitos, desde o voto até a festa negra.”     

A seguir, a bibliografia da aula 5:

Racialização e Cidadania Negra

Profa. Wlamyra Albuquerque

Bibliografia

Anderson, Benedict. Comunidades Imaginadas. São Paulo, Companhia das Letras, 2008.

Albuquerque, Wlamyra. O Jogo da dissimulação: abolição e cidadania negra no Brasil. São Paulo, companhia das Letras, 2009.

Albuquerque, Wlamyra; Castilho, Lisa e Sampaio, Gabriela dos Reis (org). Barganhas e querelas da escravidão. Salvador, EDUFBa, 2014.

Azevedo, Elciene e Reis, João José (org). Escravidão e suas sombras. Salvador, EDUFBa, 2012.

Balaban, Marcelo; Lima, Ivana Stolze e Sampaio, Grabriela (org). Marcadores de Diferença: raça e racismo na história do Brasil. Salvador, EDUFBa, 2019.

Chalhoub, Sidney. Machado de Assis, historiador. São Paulo, Companhia das Letras, 2003.

Cooper, Frederick; Holt, Thomas e Scott, Rebecca. Além da escravidão – investigações sobre raça, trabalho e cidadania em sociedades pós-emancipações. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2005.

Cunha, Maria Clementina Pereira Cunha. Ecos da Folia: uma História social do carnaval carioca entre 1880 e 1920. São Paulo, Companhia das Letras, 2001.

Daibert Jr., Robert. Isabel: a “Redentora” dos escravos. Bauru, EDUSC, 2004.

Fraga Filho, Walter. Encruzilhadas da liberdade. Campinas, Editora da UNICAMP, 2006.

Gomes, Flávio e Domingues, Petrônio (org). Experiências da emancipação: biografias, instituições e movimentos sociais no pós-abolição (1890- 1980). São Paulo, Selo Negro, 2011.

Gomes, Flávio e Cunha, Olívia Maria Gomes da (org.). Quase-cidadão: histórias e antropologias do pós-emancipação no Brasil. Rio de Janeiro, FGV, 2007.

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Grinberg, Keila. O fiador dos brasileiros. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2002.

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