Ainda sob impacto da vibrante discussão sobre cidadania negra e republicanismo proposta por Wlamyra Albuquerque …
… nesta semana, em que se celebra o nascimento do primeiro estado nacional brasileiro, monárquico e escravista, o nosso curso vai continuar a falar de república e pós-abolição, com o tema ‘O pós-abolição e a luta antirracista no campo cultural”, com a professora Martha Abreu.

Em suas palavras:
“O fortalecimento do campo de estudos sobre o pós-abolição – que se destaca por problematizar uma história não contada do racismo e das lutas antirracistas – tem permitido a criação de outras narrativas sobre a história republicana, muito além da versão, ainda muito difundida, sobre um único destino para os libertos: “Da Senzala à Favela” a partir da experiência da marginalização.
Este tipo de narrativa não só silencia sobre a continuidade do protagonismo dos descendentes de escravizados, como desconsidera a atuação, em termos políticos e culturais, dos descendentes de uma majoritária população negra nascida livre desde o período colonial, como temos visto neste curso.
De acordo com uma “velha” interpretação sobre a Primeira República, o “povo” e a população negra, sem dúvida recorrentemente excluídos das instâncias de poder e estigmatizados pelas construções racializadas sobre seus corpos e comportamentos, teria se afastado das lutas pela cidadania, assumindo e aceitando a marginalização e as imagens inferiorizadas que lhes foram impostas.
Nesta aula, pretendo apresentar uma série de indicadores de que as lutas pela cidadania não foram abandonadas – muito menos esquecidas no pós-abolição. Pelo contrário, através de estudos biográficos sobre intelectuais de diversas áreas, inclusive músicos populares negros, sobre a fundação de associações civis, políticas e culturais, sobre a organização de jornais, mobilizações eleitorais e sindicais, batuques e carnavais negros, uma pujante nova produção historiográfica tem reconstruído a história republicana a partir de ações e movimentos negros antirracistas e por direitos, desde o voto até a festa negra.”
A seguir, a bibliografia da aula 5:
Racialização e Cidadania Negra
Profa. Wlamyra Albuquerque
Bibliografia
Anderson, Benedict. Comunidades Imaginadas. São Paulo, Companhia das Letras, 2008.
Albuquerque, Wlamyra. O Jogo da dissimulação: abolição e cidadania negra no Brasil. São Paulo, companhia das Letras, 2009.
Albuquerque, Wlamyra; Castilho, Lisa e Sampaio, Gabriela dos Reis (org). Barganhas e querelas da escravidão. Salvador, EDUFBa, 2014.
Azevedo, Elciene e Reis, João José (org). Escravidão e suas sombras. Salvador, EDUFBa, 2012.
Balaban, Marcelo; Lima, Ivana Stolze e Sampaio, Grabriela (org). Marcadores de Diferença: raça e racismo na história do Brasil. Salvador, EDUFBa, 2019.
Chalhoub, Sidney. Machado de Assis, historiador. São Paulo, Companhia das Letras, 2003.
Cooper, Frederick; Holt, Thomas e Scott, Rebecca. Além da escravidão – investigações sobre raça, trabalho e cidadania em sociedades pós-emancipações. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2005.
Cunha, Maria Clementina Pereira Cunha. Ecos da Folia: uma História social do carnaval carioca entre 1880 e 1920. São Paulo, Companhia das Letras, 2001.
Daibert Jr., Robert. Isabel: a “Redentora” dos escravos. Bauru, EDUSC, 2004.
Fraga Filho, Walter. Encruzilhadas da liberdade. Campinas, Editora da UNICAMP, 2006.
Gomes, Flávio e Domingues, Petrônio (org). Experiências da emancipação: biografias, instituições e movimentos sociais no pós-abolição (1890- 1980). São Paulo, Selo Negro, 2011.
Gomes, Flávio e Cunha, Olívia Maria Gomes da (org.). Quase-cidadão: histórias e antropologias do pós-emancipação no Brasil. Rio de Janeiro, FGV, 2007.
Gomes, Flávio e Schwarcz (org). Dicionário da escravidão e liberdade. São Paulo, Companhia das Letras, 2018.
Grinberg, Keila. O fiador dos brasileiros. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2002.
Hébrard, Jean e Scott, Rebecca. Provas de Liberdade: uma odisseia atlântica na era da emancipação. São Paulo, Editora da UNICAMP, 2014.
Mac Cord, Marcelo; Araújo, Carlos Eduardo Moreira e Gomes, Flávio dos Santos (org). Rascunhos cativos: educação, escolas e ensino no Brasil escravista. Rio de Janeiro, Sete Letras, 2017.
Machado, Maria Helena. O plano e o pânico: os movimentos sociais na década da abolição. São Paulo, EDUSP, 1994.
Machado, Maria Helena P. T. e Schwarcz, Lilia (org). Emancipação, inclusão e exclusão: desafios do passado e do presente. São Paulo, EDUSP, 2018.
Machado, Maria Helena P.T. e Castilho, Celso ( org). Tornando-se livre: agentes históricos e lutas sociais no processo da abolição. São Paulo, EDUSP, 2015.
Mattos, Hebe Maria. Das Cores do silêncio: os significados da liberdade no sudeste escravista. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1998.
Medonça. Joseli Maria Nunes. Entre a mão e os anéis. Campinas, Editora da UNICAMP, 1999.
Querino, Manuel. Costumes Africanos no Brasil. Recife, Editora Massangana, 1988.
Rosa, Marcus Vinicius de Freitas. Além da invisibilidade – história social do racismo em Porto Alegre durante o pós-abolição. Porto Alegre, EST, 2019.