Este blog nasceu no carnaval de 2014. Desde então, como criadoras do blog, nunca deixamos de postar algo logo após a festa de Momo, ressaltando seu caráter político e de produção pública de leituras do passado. O que fazer neste 2021 em que não teve carnaval?
De repente nos demos conta que estávamos sem um novo texto desde novembro. Muitos compromissos de cada uma de nós separadamente, um certo cansaço das duas veteranas que assinam esta nota… queríamos corrigir isso. Decidimos fazer um texto sobre o não carnaval de 2021.
Mas ele não saiu. Não, como imaginamos.
Não saiu, como a maioria absoluta das instituições carnavalescas – escolas de samba, blocos, trios elétricos, afoxés, maracatus – que ficaram em casa este ano.
Pelo menos, desde o final do século XIX, o carnaval tem um lado oficial, ligado, sobretudo, às autoridades municipais. O carnaval foi adiado ou suspenso no Rio de Janeiro em alguns anos de conflito político da década de 1890. Ainda assim, a supressão do carnaval oficial não tem o poder de eliminar a festa popular. Em 1912, foi adiado para abril, em luto pela morte do Barão de Rio Branco e, ao final, aconteceu duas vezes.
O nível de adesão dos grupos carnavalescos à não folia é o que mais se destacou nas ruas das cidades brasileiras neste 2021. Apesar da tradição e dos prejuízos e perdas de um dos mais ativos circuitos econômicos da indústria cultural do país, respeitaram a vida e o luto, em um claro ato político de interpretação histórica do passado recente.
O carnaval e os foliões fazem parte das lutas e desafios de seu próprio tempo. Este ano não teve carnaval. O discurso político mais eloquente foi o silêncio.
Sem purpurina, máscaras de pano aguardam a festa de 2022!

Foto de abertura: Ettore Chiereguini/Estadão Conteúdo. Sambódromo do Anhambi, 13 de fevereiro 2021
VALE A PENA LER DE NOVO:
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