O Festival do filme de pesquisa sobre memória e história da escravidão moderna (cultura, diáspora, cidadania) teve início em 2008 em Paris, por iniciativa de centros de pesquisa da França, do Canadá e do Brasil. Trata-se de uma mostra itinerante, que ganhou este ano uma página na web, com uma chamada permanente por novos filmes e um arquivo com a sinopse de todos os vídeos já apresentados. Os filmes estão disponíveis em DVD na videoteca do LABHOI/UFF e muitos estão disponibilizados integralmente na internet, podendo ser acessados a partir do próprio site. Convidamos os leitores a explorar este interessante acervo.
Para começar, vale conferir o curta de Nilma Accioli, Ibiri, tua boca fala por nós, que em 16 minutos nos apresenta seis irmãs, descendentes de escravos, que guardam a memória de como foram violentamente expulsas das terras em que haviam nascido e crescido, no município de São Pedro da Aldeia no Rio de Janeiro. Desenvolvido enquanto Nilma fazia seu curso de pós-graduação lato-sensu em história do Rio de Janeiro na UFF, o filme emocionou a platéia da edição de Paris 2009, ganhando o prêmio de público, instituído para esssa edição específica. A convite dos organizadores, Nilma viajou a Paris para recebê-lo.
Em uma semana em que tradições religiosas diferentes celebram passagem, ressureição e renascimento, vale também conferir o filme da antropóloga canadense Francine Saillant, em parceria com a Ialorixá Torodi de Ogum, do terreiro Ala Koro Wo de São João do Meriti, Rio de Janeiro. O Navio Negreiro registra uma poderosa encenação feita pela Mãe de Santo, com filhos de Santo e crianças que frequentavam os cursos de cidadania realizados no terreiro, sobre a travessia do Atlântico de seus antepassados.
Para os amantes do jongo, dois filmes do antropólogo Pedro Simmonard estão na lista. Salve Jongo! sobre Mestre Darcy da Serrinha, e o documentário de 2010 sobre o Jongo de Pinheiral, Eu venho de Longe, estão disponíveis na íntegra na web. Além, é claro, de todos os filmes da nossa caixa de DVDs Passados Presentes.
Há muito mais no site, com personagens e narrativas quase sempre surpreendentes e emocionantes. O Brasil é, sem sombra de dúvida, o país com maior número de vídeos no festival, em sua maioria disponíveis online. Mas há também inúmeros filmes em francês ou inglês, sobre lugares absolutamente fascinantes, como Haiti, Benin, Moçambique e Irã, algumas vezes integralmente disponíveis na internet, infelizmente sem legendas para o português na maior parte dos casos. Golden Scars, da antropóloga canadense Alexandrine Boudreaul-Furnier, sobre dois jovens rappers cubanos, é falado em espanhol e está na íntegra disponível no site.
#ficaadica
imagem 1: Projeção do Filme Os Escravos de Ontem. Democracia e Etnicidade no Benin. Imagem 2: Debate após projecão do filme Passados Presentes: Memória Negra no Sul Fluminense, com a presença de Fatinha e Gracinha (Jongo de Pinheiral) e Romão e Marilda (Quilombo do Bracuí)
Quarto Festival do Filme de Pesquisa no Rio de Janeiro, CINEMA 2, Centro Cultural Banco do Brasil, 25 de abril de 2012.Para mais imagens das várias edições do festival, confira a Galeria de Imagens do Site.