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O ProfHistoria e o bom combate

Afirmo sem medo de errar que o ProfHistoria é a maior novidade da pós-graduação em História no Brasil. Como a Monica Lima já escreveu por aqui, o mestrado profissional em Ensino de História, nome completo do ProfHistoria, ocorre hoje em 27 universidades de todo o Brasil, congregando professores da Educação Básica e do ensino superior em torno de um objetivo comum: contribuir para a melhoria do ensino de História no Brasil. Queremos contribuir com reflexões, mas também com ações práticas, de preferência umas atreladas às outras.

Um bom exemplo do impacto que programa já provoca ficou evidente no Seminário de Ensino de História da Africa, da Cultura Afro-Brasileira e Indígena nas Escolas, ocorrido sábado passado na UNIRIO. A partir dos trabalhos finais de mestrandos do Programa, realizamos um dia inteiro de discussão em torno de quatro temas: religiosidade afro-brasileira; arte, histórias e biografias; patrimônio e ensino de História indígena; e currículo e relações étnico-raciais.

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Quem esteve lá ouviu professores entusiasmados com as suas práticas e ansiosos por compartilhar suas pesquisas.  Ninguém há de discordar que o momento é de resistência e luta pela defesa das conquistas obtidas nos últimos anos no campo da Educação. Mas o que vimos no sábado foi um grupo de professores animados em transformar os grandes desafios da sala de aula em experiências positivas. Mais do que nunca, é disto que precisamos. Como sempre, o tempo foi curto para o tanto que havia a conversar. Faremos outros. Enquanto isso, divulgaremos em breve aqui os trabalhos apresentados. Afinal, os mestres do ProfHistoria têm pressa, que há muito o que fazer e nenhum tempo a perder.

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O seminário foi uma iniciativa conjunta do ProfHistória/Rede Rio e do projeto de pesquisa “Passados Presentes: memórias da escravidão e políticas de reparação nas políticas públicas na área de educação no Brasil”, realizado pelo LABHOI/UFF, NUMEM/UNIRIO e pela Universidade de Columbia (NY, EUA), no âmbito do edital FAPERJ/Columbia. Abaixo, a programação completa.

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PROGRAMAÇÃO:

09:00 às 10:30
Mesa 1: Religiosidade Afro-Brasileira e o Ensino de História
Debatedora: Ivana Stolze Lima (FCRB e PUC-Rio)

Isabelle de Lacerda Nascentes Coelho – mestranda no ProfHistória (UFRRJ) / professora da rede estadual do Rio de Janeiro
O Axé na Sala de Aula: abordando as religiões afro-brasileiras no Ensino de História.

Carolina Barcellos Ferreira – mestre pelo ProfHistória (UERJ) / professora das redes municipais de Nova Iguaçu e Rio de Janeiro
“Isso é coisa da macumba?” Elaboração de um material pedagógico de História sobre as religiosidades afro-brasileiras em museus do Rio de Janeiro.

Jessika Rezende Souza – mestre pelo ProfHistória (UFRJ) / professora da rede estadual do Rio de Janeiro
Entre a cruz e o terreiro: uma análise em torno da integração entre a religiosidade afro-brasileira e o Ensino de História no Museu do Negro.

10:30 às 12:30
Mesa 2: Arte, Histórias e Biografias no Ensino de História da Africa e da Cultura Afro-Brasileira
Debatedora: Giovana Xavier (UFRJ)

Rafael Bastos Alves Privatti – mestre pelo ProfHistória (PUC-Rio) / professor da rede municipal do Rio de Janeiro e da rede estadual do Rio de Janeiro
Desenhos animados e ensino de História: uma aposta para o letramento nas séries iniciais da escolarização.

Lucas Moreira Calvo – mestre pelo ProfHistória (UFRJ) / professor da rede municipal do Rio de Janeiro e da rede estadual do Rio de Janeiro
Histórias conectadas no ensino de História: tecendo conexões entre o Norte da África e a Península Ibérica no período da expansão islâmica (séculos VII-IX).

Joana D’arc Araújo da Silva – mestre pelo ProfHistória (UFRJ) / professora da rede municipal do Rio de Janeiro e da rede estadual do Rio de Janeiro
Enegrecendo as Belas Artes: ensinando história por meio das trajetórias de dois pintores negros do Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX.

Carolina Viana Machado – mestre pelo ProfHistoria (UFRJ)
O pós-abolição nas aulas de História: uma análise do papel social atribuído aos negros na História ensinada.

14:00 às 15:30
Mesa 3: Patrimônio e Ensino de História Indígena
Debatedora: Regina Celestino (UFF)

Marcia de Souza da Silva Maia – mestranda no ProfHistória (Puc-Rio) / professora da rede particular de São João de Meriti
Parque Indígena do Xingu: um jogo para a lei 11.645/2008.

Carla Cristina Bernardino Ramos – mestre pelo ProfHistória (UFRJ) / professora da rede municipal de Araruama e da rede estadual do Rio de Janeiro
Presença Indígena em Araruama: Patrimônio e Ensino de História.

Thais Elisa Silva da Silveira – mestre pelo ProfHistória (UERJ) / professora da rede municipal de Duque de Caxias
Identidades Invisíveis: indígenas em contexto urbano e ensino de história na região metropolitana do Rio de Janeiro.

15:30 às 17:30
Mesa 4: Currículo e relações étnico-raciais no ensino de História
Debatedora: Cecília Silva Guimarães (UNIRIO)

Ana Carolina Mota da Costa Batista – mestre pelo ProfHistória (UFF) / professora da rede municipal de Araruama e da rede estadual do Rio de Janeiro
Relações étnico-raciais na voz do professor: currículo em debate no contexto quilombola.

Cristiane Lemos – mestre pelo ProfHistória (UNIRIO) / professora da rede estadual do Rio de Janeiro
Tecendo caminhos para aplicação da lei 10639/2003: um relato de experiência em turmas de 3º ano do Ensino Médio da rede pública.

Camila Abreu – mestre pelo ProfHistória (UNIRIO) / pós-graduada em Arte e Cultura (IUPERJ)
Quilombo de Maria Conga em Magé: memória, identidade e ensino de História.

Fernanda Nascimento Crespo – mestre pelo ProfHistória (UERJ) / professora da rede municipal do Rio de Janeiro e da rede estadual do Rio de Janeiro
O Brasil de Laudelina: usos do biográfico no ensino de história.

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O Arco do Retorno

Uma importante notícia da última semana foi a inauguração, na ONU, em Nova York, na quarta feira, 25 de março, de um monumento em Memória das Vítimas da Escravidão e do Comércio Transatlântico de Escravos. O monumento, nomeado como “Arco do Retorno”, foi realizado pelo arquiteto e designer Rodney Leon. Vale conferir o filme disponibilizado no site da ONU em que ele explica (em inglês) o design desenvolvido. 

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O monumento celebra o reconhecimento pelas Nações Unidas da escravidão atlântica como crime contra a humanidade. Em mensagem para a inauguração, Ban Ki-moon, Secretário Geral da ONU, considerou que o Arco do Retorno irá “ajudar a curar feridas, a lembrar o passado e a honrar a memória das vítimas”.

Na mesma Nova York, no sábado, 28 de março, O New York Times comemorou os 150 anos da rendição do General Confederado Robert Lee, que marcou o fim da chamada Guerra de Secessão nos Estados Unidos, com um memorável artigo de Eric Foner, historiador da Columbia University. Recomendamos a leitura do texto, ainda que em inglês. A derrota da política de Reconstrução nos Estados Unidos, em 1877, foi uma tragédia para a democracia estadunidense que influenciou a questão racial em todo mundo ao longo do século XX. Conhecer a disputa de versões historiográficas sobre os seus significados também nos ajudar a pensar sobre a contemporaneidade do tema da escravidão atlântica, celebrada no monumento da ONU.

No Brasil, as discussões (em português) sobre escravidão e pós-abolição também têm presença importante. Na retomada do julgamento no Supremo Tribunal Federal da ação de constitucionalidade sobre o Decreto 4887/03,  que estabelece os procedimentos para titulação das terras quilombolas, de acordo com o artigo 68 do ADCT, retomada no mesmo dia 25 da inauguração do monumento na ONU, a Ministra Rosa Weber votou pela constitucionalidade.  Segundo ela: “A eleição do critério de autoatribuição não é arbitrária, tampouco desfundamentada ou viciada. Além de consistir em método autorizado pela antropologia contemporânea, estampa uma opção de política pública legitimada pela Carta da República, na medida em que visa a interrupção do processo de negação sistemática da própria identidade aos grupos marginalizados”.  O parecer pode ser consultado na íntegra. Porém o Ministro Dias Toffoli pediu vista do processo e não há previsão de retomada do julgamento. Fiquemos atentos

Sobre escravidão e pós-abolição, destacamos também a aproximação do grande Encontro Nacional da Associação  de História (ANPUH), a ser realizado em Florianópolis, entre 27 a 31 julho de 2015. O Grupo de Trabalho Nacional Emancipações e Pós-abolição, do qual fazemos parte, convida pesquisadoras e pesquisadores interessados em discutir temas como escravidão, liberdade, raça, trabalho, pós-abolição, memórias da escravidão, ensino de história e reeducação das relações étnico-raciais, a inscreverem seus trabalhos em um dos três simpósios temáticos que organiza:

Simpósio 108 – Outras paisagens do cativeiro e da liberdade: abolição, abolicionismo e pós-emancipação 
Coordenadores: Flávio dos Santos Gomes (UFRJ) e Maria Helena Machado (USP)
Espaço voltado para o debate teórico e metodológico sobre os estudos da escravidão, Abolição e pós-emancipação nas Américas.

Simpósio 112 – Pós-abolição, identidades e culturas

Coordenadores: Edinelia Oliveira Souza (UNEB) e Rodrigo de Azevedo Weimer (UNISINOS)
Espaço voltado aos estudos históricos situados em período posterior à Abolição da escravidão, com destaque para as relações entre pós-abolição e memória da escravidão.
O trabalho de coordenação do ST será dividido com Álvaro Nascimento (UFRRJ), Martha Abreu (UFF) e Hebe Mattos (UFF), que participarão como comentadores das sessões pelo sistema de “coordenações compartilhadas”.

Simpósio 114 – Reeducação das relações étnico-raciais e ensino de história: diálogos possíveis, relações necessárias
Coordenadores: Maria Aparecida Lima (UFF) e Lourival dos Santos (UFMS). Espaço voltado para discussões sobre educação étnico-racial e indígena no ensino de história. O trabalho de coordenação do ST será dividido com Warley da Costa (UFRJ), Giovana Xavier (UFRJ), Amílcar Pereira (UFRJ) e Mônica Lima (UFRJ), que participarão como comentadores das sessões pelo sistema de “coordenações compartilhadas”.

Fora do GT Emancipações e Pós-Abolição, mas também refletindo sobre a contemporaneidade dos estudos históricos sobre a escravidão, há ainda o Simpósio 005 – A Escravidão negra nas Américas: o antigo problema sob novas miradas, coordenado por Gabriel Aladren (USP) e Ynaê Lopes dos Santos (FGV).

As inscrições de trabalhos nos simpósios temáticos terminam nesta terça-feira, 31 de Março.

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A discussão sobre a História Pública se consolida no Brasil

Este blog é parte de uma discussão que tem crescido entre os historiadores, sobre a ampliação dos campos e espaços públicos de atuação do historiador profissional. Pedimos à nossa colega Juniele Rabêlo de Almeida, uma das organizadoras do “2º Simpósio Internacional de História Pública” , ocorrido na UFF entre 10 e 12 de setembro, para fazer aqui um balanço do evento. Com ela, a palavra: 

“Esta é a avaliação a que se chega após o “2º Simpósio Internacional de História Pública”. O evento, realizado pela Rede Brasileira de História Pública (RBHP) e pelo Laboratório de História Oral e Imagem (LABHOI/UFF), aconteceu na Universidade Federal Fluminense (UFF) entre os dias 10 e 12 de setembro. O Simpósio contou com cerca de 500 participantes considerando todas as modalidades de participação (conferências, mesas redondas com debatedores convidados, oficinas, apresentações orais em Grupos de Trabalhos, sessões de comunicação de Experiências em História Pública e lançamentos de livros).

O tema aglutinador escolhido “Perspectivas da História Pública no Brasil” propiciou o cruzamento de fronteiras entre diversas áreas de conhecimento e atuação, acadêmicas e não acadêmicas. Tal intercâmbio, empreendido entre pesquisadores e profissionais de várias áreas, contribuiu para o fortalecimento da sistemática de realizações bienais de simpósios de História Pública. O encontro teve um perfil nitidamente interinstitucional, interdisciplinar e transnacional.

Profissionais e estudantes de múltiplas áreas, como historiadores, comunicólogos, cientistas sociais, professores, blogueiros estabeleceram os debates sobre o tema do simpósio. A historiadora Linda Shopes (Columbia University e Goucher College/EUA), responsável pela concorrida palestra de abertura, destacou o “parentesco radical” entre a história oral e história pública.

Após a abertura, duas mesas redondas ocorreram diariamente, versando sobre a relação entre História Pública e: mídias, tempo presente, comunidades e culturas populares, plataformas digitais, narrativas públicas. Mais de uma centena de comunicações foi inscrita nos 15 Grupos de Trabalho (Educação, Culturas Populares, Comunidades, História Oral, Biografia, Literatura, Cinema, Documentário, Artes, Fotografia, Rádio, Plataformas Digitais, Patrimônio, Jornalismo, Turismo e Produção cultural e Ciências da Saúde), reunindo profissionais de variadas formações e regiões com o intuito de discutir o modo de operação dessa prática de produção e divulgação do conhecimento histórico. Oficinas que abordaram temas da história e as mídias, o cinema, o videogame, a oralidade, completaram a programação.

A julgar pelos debates desenvolvidos pelos participantes, o evento cumpriu seu objetivo principal. Se o primeiro simpósio (USP, 2011) objetivava sensibilizar e mobilizar profissionais que se identificassem com a prática da História Pública, este segundo simpósio propôs refletir sobre o que se compreende ser a História Pública e avaliar as perspectivas de sua prática no Brasil. De fato, sobressaiu no momento inicial o entendimento da História Pública como a ampliação dos públicos para o conhecimento histórico, que se utiliza de outros meios para ser divulgado além da produção acadêmica; como revistas, televisão, cinema etc. Contudo, outro aspecto a ser destacado a partir dos debates do evento diz respeito à produção compartilhada do conhecimento histórico e as transformações sociais decorrentes (em especial, políticas públicas). A prática em História Pública considera passível de reflexão histórica trabalhos realizados por não-historiadores, como a atuação profissional de diversas áreas que abordam temas da história. Não se trata de hierarquizar os saberes/produções, mas reconhecer que um trabalho dialógico feito com responsabilidade no tratamento das fontes e na construção da narrativa histórica permite a problematização da história. Por essa perspectiva, valoriza-se o diálogo entre múltiplas áreas do conhecimento para a produção do saber histórico, reiterando-se a observação de Jill Liddington de que mais importante do que definir o que é a história pública, é compreender como se faz.

Refletir sobre a produção e a circulação do conhecimento histórico é um exercício antigo, especialmente entre historiadores. Mas, sua pertinência continua atual, sobretudo diante das novas tecnologias que tem modificado o tratamento das fontes de pesquisa, desde o seu arquivamento ao seu acesso, a própria pesquisa e, naturalmente, às formas de compartilhar o saber produzido. A Rede Brasileira de História Pública tem proposto olhares para essa reflexão, num esforço que tem encontrado interlocutores dispostos a qualificar e avançar nos debates. Sendo assim, foi estabelecido na Assembleia da RBPH os novos caminhos. O próximo Simpósio Internacional de História Pública ocorrerá em 2016 e será sediado na região nordeste, cuja coordenação inicial está a cargo da Universidade Federal do Ceará. Enquanto isso, ao longo de 2015, eventos pontuais nas cidades onde a RBHP está representada serão realizados para sensibilizar a comunidade acadêmica e os profissionais que trabalham com a História.”

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 Legenda das fotos:

Cartaz/ Abertura do simpósio internacional “Perspectivas da História Pública no Brasil”, composta por Ana Mauad, Juniele Rabêlo de Almeida, Ricardo Santhiago, Anita Lucchesi e Serge Noiret/Martha Abreu, Paulo Fontes, Lia Calabre, Hebe Mattos e Marta Rovai compuseram a mesa redonda História Pública, Comunidades e Culturas Populares/ Linda Shopes profere palestra de abertura, mediada por Ana Mauad/ Mesa de encerramento do Simpósio, composta por Benito Shimidt, Marieta Ferreira, Juniele Rabêlo de Almeida, Renata Schittino e Ricardo Santhiago

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