Memória da Escravidão no Brasil

Andamos sumidas. Muito trabalho para fechar o projeto Passados Presentes. Desde 2014, formamos com Keila Grinberg uma nova rede de pesquisa, que tem atuado em conjunto com quilombos e comunidades jongueiras do Rio de Janeiro.

O projeto Passados Presentes: Memória da Escravidão no Brasil está desenvolvendo um aplicativo de geo-localizacão para o turismo de memória, iniciando com quatro roteiros ligados ao patrimônio imaterial do Rio de Janeiro (Jongos, quilombos e lugares históricos da capoeira) listados no Inventário  UFF/UNESCO dos Lugares de Memória do Tráfico Atlântico de Escravos e dos Africanos Escravizados no Brasil. Para tanto, em diálogo com o aplicativo, desenvolvemos um sistema de sinalização físico nas localidades com placas e códigos QR e 3 exposições/memoriais a céu aberto. Nas últimas semanas, estivemos no Quilombo São José da Serra, no Quilombo do Bracuí e na cidade de Pinheiral marcando por satélite os pontos identificados pelos moradores para cada um dos roteiros histórico-turísticos. Reproduzimos aqui o texto da placa principal do projeto, disponível também no hotsite Passados Presentes, que acaba de ser lançado. O projeto tem patrocínio do Edital Petrobras Cultural 2012 e apoio do convênio FAPERJ/Columbia Global Center.

O tráfico atlântico de africanos escravizados para as Américas é considerado pela ONU como um crime contra a humanidade. O Estado brasileiro, nascido em 1822, teve responsabilidade direta nesse processo: dos horrores da travessia à violência da escravização em terras brasileiras. Apesar disso, a presença africana no Brasil deixou um legado cultural inestimável, hoje oficialmente reconhecido em diversos patrimônios do país, entre os quais o Jongo do Sudeste.

No século 19, estima-se que cerca de pelo menos um milhão e meio de africanos tenham desembarcado no Brasil. No Rio de Janeiro, a maioria deles aportou no Cais do Valongo e depois em portos clandestinos do litoral, como a antiga fazenda do Bracuí, em Angra dos Reis, onde hoje se localiza o Quilombo do mesmo nome. Os africanos chegados viveram o resto de suas vidas nas plantações de café no Vale do Paraíba, como a antiga fazenda de São José da Serra, cujas terras hoje formam o Quilombo São José, em Valença. Abolida a escravidão, em 1888, muitos de seus descendentes migraram para as áreas urbanas do estado do Rio de Janeiro e transformaram a vida dessas cidades ao longo do século 20. A associação de jongueiros da cidade de Pinheiral, erguida em torno da antiga estação ferroviária, por onde muitos libertos chegaram, expressa esse movimento.

Com o objetivo de reconhecer essas histórias e estimular o turismo de memória no Rio de Janeiro, o projeto Passados Presentes – memória da escravidão no Brasil, em parceria com as comunidades, está construindo exposições permanentes no Quilombo do Bracuí, no Quilombo de São José da Serra e na cidade de Pinheiral. A sinalização turística e os memoriais a céu aberto buscam honrar as vítimas da tragédia da escravização e celebrar o patrimônio cultural negro erguido em terras brasileiras pelos que sobreviveram.

Convidamos todos a ver o teaser do projeto (imperdível).

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Ficha Técnica

Coordenação Geral e Textos:

Hebe Mattos – historiadora, Universidade Federal Fluminense. Coordenadora do Laboratório de História Oral e Imagem (LABHOI/UFF).

Martha Abreu – historiadora, Universidade Federal Fluminense. Organizadora, com Hebe Mattos e Milton Guran, do Inventário dos Lugares de Memória do Tráfico Negreiro e da História dos Africanos escravizados no Brasil da UNESCO.

Keila Grinberg – historiadora, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Coordenadora do Núcleo de Documentação, História e Memória (NUMEM/UNIRIO).

Consultoria de Pesquisa

Matthias Assunção – Matthias Röhrig Assunção – historiador na Universidade de Essex, Reino Unido, e pesquisador associado ao LABHOI/UFF

Elaine Monteiro _ Educadora, Universidade Federal Fluminense e Coordenadora do Pontão da Cultura do Jongo e do Caxambu.

Coordenação de Pesquisa

Daniela Yabeta _ Historiadora, pos-doutoranda no LABHOI/UFF (CNPq/FAPERJ)

Assistência de Pesquisa

Lívia Monteiro _ Historiadora, doutoranda no PPGH/UFF.

Apoio Técnico

Alexandre Abrantes e Clarissa Mainardi (LABHOI/UFF)

Bolsistas de iniciação científica (Apoio FAPERJ/CNPq)

Eline Cypriano; Daniely Sant’Anna; Lissa Passos; Thamyris Morais; Vanessa Gonçalves.

Consultoria de pesquisa nas comunidades:

Jongo de Pinheiral

Maria de Fátima da Silveira Santos, Maria Amélia da Silveira Santos e Maria das Graças da Silveira Santos.

Quilombo de São José da Serra

Antônio do Nascimento Fernandes, Almir Gonçalves Fernandes, Gilmara da Silva Roberto e Luciene Estevão Nascimento.

Quilombo do Bracuí

Marilda de Souza Francisco, Angélica Souza Pinheiro e Luciana Adriano da Silva.

Direção de Criação e Arte do Memorial: André De Castro

Designer Sênior e ilustração: Julia Haiad

Designers: João Roma e Victor Lifsitch

Cenotécnico: André Salles

Equipe local de Montagem: Walmir de Souza Francisco; Antônio de Pádua Estevão; Jorge dos Passos Estevão e Carlos Roberto Roberto.

Criação Audio-Visual: Guilherme Hoffmann

Tecnologia – site e aplicativo: Digitok

Assessoria de Imprensa: Somma Comunicações

Produção Executiva: Isabel Pacheco

Direção de Produção: Cria Produções

3 Comentários

Arquivado em história e memória, história pública

3 Respostas para “Memória da Escravidão no Brasil

  1. Nancy Rita Sento Sé de Assis

    Embora a escravidão e seus desdobramentos não estejam, exatamente, no centro dos meus interesses temáticos no campo da história, o projeto e os resultados dele têm me encantado bastante. Já orientei um estudo de mestrado sobre uma comunidade aqui do baixo sul da Bahia, chamada Jatimane, que tem características, rotina e práticas culturais muito peculiares. Gostaria de ver os estudiosos da escravidão e do pós-abolição da Bahia realizarem um projeto de fôlego semelhante a este. Não só com Jatimane, mas também com Boitaraca, Cinzento (essa no Sudoeste do Estado) e tantos outras. Parabéns, querida Hebe Mattos. Belíssimo trabalho. Congratulações a toda a equipe de pesquisadores e técnicos.

  2. Marrenilde Ribeiro

    Amei tomar conhecimento do projeto da história do meu povo que é a minha história. Belíssimo trabalho de importância ímpar. Vou mostrar ao meu filho que se o nosso passado foi demasiadamente triste machucando intensamente a alma, o presente do legado material é lindo de se ter orgulho. Parabéns a todos construtores deste projeto.

  3. Pingback: Desconstruindo preconceitos: a importância do ensino de história para a construção de uma nova cultura política - Geledés

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