Feliz Ano Novo

O Conversa de Historiadoras completa seu segundo ano no ar. Inauguramos o blog, em 15 de março de 2014, com um texto que chamamos de O Novo Caso do Bracuí. Hebe estava então como professora visitante em Nova York. Martha, no Rio, tinha acompanhado de perto o carnaval da Império Serrano, com enredo sobre Angra dos Reis, baseado em nosso filme Jongos, Calangos e Folias. O Quilombo do Bracuí tinha destaque no enredo, belamente defendido pela escola de samba da Serrinha, mas os quilombolas não puderam estar na avenida. Para completar sua decepção, as chuvas daquele fevereiro fizeram cair o teto da sede da associação quilombola. A situação de fragilidade social do grupo nos afligia e queríamos que o Projeto Passados Presentes, aprovado no edital de patrimônio imaterial da Petrobras do ano anterior e que tinha no Quilombo do Bracuí um de seus proponentes, se tornasse uma ferramenta para modificar isso. Nosso primeiro artigo e o próprio blog surgiram da vontade de construir um veiculo para divulgar o trabalho que então se iniciava.

Local de memória dos últimos desembarques ilegais de africanos no Rio de Janeiro, a história do quilombo do Bracuí e sua poderosa tradição oral são a matéria prima da exposição memorial inaugurada em 14 de novembro deste ano de 2015 na casa da quilombola Marilda de Souza. Ponto 1 do circuito de memória Passados Presentes no Rio de Janeiro, o Projeto reflete e divulga a experiência da última geração de africanos, sequestrados em África ainda meninos e trazidos para portos clandestinos da costa do Sudeste, como a antiga fazenda do Bracuí.

Enquanto montávamos a exposição no Bracuí, o terreno de Marilda foi invadido e três das placas do circuito de memória sinalizado foram arrancadas e destruídas. Ainda que a festa de inauguração tenha sido um grande sucesso e as visitas tenham se avolumado desde então, a fragilidade social dos quilombolas do Bracuí continuava a nos afligir, quase dois anos depois de iniciados o Blog e o Projeto.

Mas o ano de 2015 termina com uma ótima notícia para os quilombolas. Dia 23 de dezembro, foi finalmente publicado, no Diário Oficial da União, o edital que trata da regularização fundiária do território do Bracuí. A comunidade esperava desde o final dos anos 1990 por esse dia. Quase um presente de Natal. Claro que o caminho para a titulação definitiva ainda é longo, mas 2016 se anuncia com alguma esperança.

No Brasil e no mundo, 2015 foi um ano desafiador, ainda assim o Blog tem muito a agradecer e a comemorar. Em 30 de abril de 2015, o Quilombo de São José da Serra, segundo ponto do circuito de memória do projeto Passados Presentes, depois de 20 anos de luta, recebeu oficialmente a posse integral de seu território! Formado pelos descendentes de dois casais de africanos que moraram na antiga fazenda cafeeira que se metamorfoseou em quilombo abolicionista, a memória do jongo e de suas raízes na África Central estão na base do memorial erguido no Quilombo e no circuito de visitação desenvolvido pelos quilombolas.

Também em 2015, o Quilombo São José e o Jongo de Pinheiral, grupo que encabeçou o projeto Passados Presentes para o edital Petrobras Cultural, foram ganhadores do Prêmio de Cultura Afro-Fluminense. A cerimônia de premiação aconteceu no dia 19 de dezembro, na Casa do Jongo, em Madureira.

O memorial Passados Presentes erguido na cidade de Pinheiral celebra as migrações negras do século 20, que fizeram do jongo patrimônio imaterial do Rio de Janeiro. Ele foi inaugurado juntamente com o Parque das Ruinas da Fazenda de São José do Pinheiro, no último 26 de julho, dia estadual do Jongo. A parceria que surgiu daí, entre o Grupo de Jongo de Pinheiral, a Prefeitura da Cidade e o projeto Passados Presentes, tornou Pinheiral, oficialmente, Cidade do Jongo.

Fechamos o ano com a sensação de dever cumprido e isto é sempre muito bom. E ainda conseguimos guardar uma surpresa para março de 2016, quando iremos inaugurar o circuito dos lugares de memória em torno da Capoeira e da Pequena Africa no centro da cidade do Rio de Janeiro.

O Blog entra em recesso até fevereiro de 2016, quando voltaremos ampliando ainda mais nossas conversas sobre história, gênero, escravidão atlântica e políticas de memória.

Bom Ano Bom Para Tod@s!

Baixe o aplicativo Passados Presentes!

4 Comentários

Arquivado em cultura negra, história e memória, história pública, remanescente de quilombo

4 Respostas para “Feliz Ano Novo

  1. Gabriel Aladrén

    Belíssima trajetória do Blog, que tem contribuído com reflexões essenciais no campo do conhecimento histórico e em questões matriciais para a política e a sociedade brasileira contemporânea… Vida longa ao Conversa de Historiadoras e ao Passados Presentes!

  2. Maria do Carmo da Costa Mattos

    Muitas realizações em 2015 e um árduo trabalho!
    Parabéns às Historiadoras!
    Que o ano de 2016 continue o sucesso de 2015.
    Feliz Ano Novo!!!

  3. Ivana Barradas

    Parabéns pelo projeto, e por todas as conquistas! Que os novos belos resultados sejam muito comemorados em 2016!

  4. Luciana Penna-Franca

    Parabéns, Hebe e Martha!!! O trabalho que vcs fazem é maravilhoso!! Muitas novas realizações em 2016!! Bjão

Deixe um comentário